JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

                          Sei que para muitos daqueles que buscam se familiarizar com as idéias e conceitos do Judaísmo Humanista  é difícil saber até que ponto podemos ou devemos falar de "Religião" e "Liberdade", já que vivemos sob a égide  de uma sociedade onde as instituições, na sua maioria, tratam das questões espirituais, individualizando-as enquanto se fazem donas da verdade.

 

                            A mestre e doutora Marilena Chaui,filósofa, historeadora e professora da USP, permite-nos uma reflexão bastante ousada, quando mostra em seu livro "ESPINOSA UMA FILOSOFIA DA LIBERDADE" o modo como esse nosso fantástico precursor da Liberdade de Pensamento trata e define "RELIGIÃO".

 

                               RACIONALISMO ABSOLUTO ( A Superstição Religiosa)

 

                             A filosofia espinosana é um racionalismo absoluto.

                             De fato, Espinosa afirma e demonstra que a totalidade do real é inteligível e pode ser inteiramente conhecida por nosso intelecto, não havendo no mundo lugar para mistérios, milagres e coisas ocultas. Por esse motivo, seu pensamento é uma crítica radical a todas as formas de irracionalismo e superstição, seja na religião, na política, seja na filosofia.

                             De onde nasce a superstição que leva ao irracionalismo? Do medo de males futuros ou de que bens não aconteçam, mas também da esperança de bens futuros ou de que males não aconteçam. Tanto o medo quanto a esperança exprimem a maneira confusa e inadequada com que nossa imaginação ( conhecimento por meio de imagens que representam confusamente as coisas), incapaz de compreender as leis necessárias que regem o universo e as ações humanas, é levada a forjar a imagem de uma Natureza caprichosa e contingente, em cujo interior somos meros joguetes.

                             Não podendo compreender o que realmente se passa na Natureza, a imaginação nos leva a forjar a imagem de um ser supremo, onipotente e onisciente, que tudo governaria segundo os caprichos de sua vontade e segundo fins incompreesíveis para os humanos: Deus. Para conseguir benefícios, afastar malefícios, obter a boa vontade e aplacar a cólera desse ser supremo, a imaginação dá mais um passo, inventando a religião como conjunto de cultos à divindade.

                             Instaurada a religião, sob essa forma, imediatamente instituiu-se uma casta de homens encarregados de realizar os cultos, receber revelações ou profecias do ser supremo e interpretar as vontades secretas Dele. No entanto, diz Espinosa, é da natureza humana a inconstância dos medos e esperanças, levando-nos a mudar de deuses conforme mudem as circunstâncias, as coisas que tememos e as que esperamos. Essa inconstância enfraquece o poder da religião sobre nós.

                            Eis por que a casta religiosa, visando a manter o domínio sobre a alma supersticiosa, precisa estabilizar nossos medos e esperanças e impedir que mudem ou flutuem. Ela o faz codificando as revelações divinas, estabelecendo leis, regras e mandamentos fixos que teriam sido ordenados eternamente por Deus, punindo com a morte e a tortura os transgressores e estabelecendo, para a sustentação de seu poderio, um aparato militar e político que opera por meio do terror, amedrontando os transgressores com ameaças de castigos e adulando o servilismo dos obedientes com promessas de recompensas.

                            Assim, a tirania religiosa e a política fundam-se no medo e na esperança irracionais, alimentando-os com nossa ignorância sobre a verdade de Deus, da Natureza e de nós mesmos.

                            Racionalismo Absoluto significa, portanto, libertar-se das causas da ignorância para com isso libertar-se das causas do medo e da esperança e, ao fazê-lo, libertar-se de seus efeitos religiosos e políticos. Racionalismo Absoluto é a confiança na capacidade libertadora da razão.

                            Para alcançá-lo, Espinosa oferece duas vias complementares: a interpretação histórico-crítica da Bíblia ( para afastar o poderio supersticioso da religião e da teologia) e a correção de nosso intelecto ( para que sua força suplante a da imaginação).

 

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Querido Chaver, Alessandro.

                            Fico realmente feliz ( sem ironia) em saber que as práticas da observância o fazem uma pessoa melhor. Mas, penso que talvez você não tenha entendido o propósito desta postagem. O objetivo é justamente este, fomentar uma discussão mais ampla à respeito do tema "Religião" e "Liberdade".

                            O texto não é meu. É de uma filósofa chamada Marilena Chaui que é especialista em Baruch Espinosa, portanto, defende suas idéias. Estas, deixaram os religiosos de sua época de cabelos em pé. Espinosa foi expulso da Sinagoga e excomungado pelos cristãos.

                             Vejo nas idéias de Espinosa como fator relevante,seu combate ao IRRACIONALISMO, que penso ser um gravíssimo problema. Comecei a prestar mais atenção neste tema quando li Hannah Arendt, que fala da "Síndrome da Irreflexão".

                             Na minha opinião o dogmatismo cego causa um grande deseguilíbrio no homem. Os dogmas nunca foram para nós judeus sinônimo de equilíbrio. Já a "Tradição", esta sim, a exemplo do que vemos registrado no clássico filme "O Violinista no Telhado", onde o conflito entre a observância e as respostas esperadas deixam claro o motivo pelo qual muitos sentem-se atraídos por outras práticas e outros se tornam judeus de fachada.

                             O judaísmo pós holocausto pode ser um exemplo claro de que quando se depende dos dogmas para manter o equilíbrio e se vê impedido das práticas das observâncias acaba-se perdendo a base o o referencial do que é ser um judeu de verdade. Eu mesmo conheço alguns que se tornaram ateus.

                              Em momento algum estou combatendo as práticas das observências, até porque entendo que deve proceder assim quem o desejar, afinal sou um Judeu Humanista. O que critico e me dou o direito de ir contra é o "Irracionalismo Religioso".

                                                                       Shalom!

                                                                                     Marcelo Barzilai.



Alessandro Bilherbeck disse:

Caro Rabi Marcelo,

 

Shabat Shalom!

 

Do fundo do meu coração não sinto que o fato da pessoa ser observante possa ser um empecilho para o desenvolvimento humano e social. Como já é sabido estou estudando pra me converter e ser um filho de Israel perante os homens, pois para Hashem sinto e sei que sou,  e devo dizer que fazer todas as práticas religiosas que um judeu deve fazer perante D-us tem me feito uma pessoa melhor, mais responsável, consciente da minha individualidade e do meu papel nesse mundo. Tem me ajudado a me encontrar como ser humano, consicente do estudo da Torá, do dever da tsedacá, consciente em ser mais amável com as pessoas, de não fazer pouco caso do pobre ou necessitado, etc. Abrir mão de tudo isso e achar que não preciso doar meu tempo pra Hashem (isso já prova que sei que ELE é o criador e eu criatura) que isso é mera superstição é sem dúvida matar algo muito bonito que cresce dentro de mim e se nutre dos bons atos e da prática religiosa, isso é meu judaismo que pulsa dentro de minha pessoa e digamos que acendeu minha neshamá!

Como minha querida esposa diz, o Judaísmo me transformou e se funcionou comigo, que era um caso perdido, pode funcionar com milhões de outras pessoas que vagam por paragens escuras, bêbadas pelo sabor do conhecimento humano e racional e que infelizmente fazem disso seu frio D-us, porque o conhecimento sozinho é incapaz de trazer conforto, paz, amor, sintonia, berachá!

 

Tenha um excelente Shabat!

 

Yasher Koach!

 

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