JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Em 1557, o comerciante Heitor Antunes e sua mulher, Ana Rodrigues, ambos cristãos-novos, deixariam a sua cidade natal de Covilhã — Portugal, para sair de Lisboa em direção ao Brasil, na mesma nau que se encontrava o famoso Men de Sá o novo Governador geral do Brasil.
A curiosidade que Heitor Antunes apesar de ser um cristão-novo tinha o título de Cavaleiro da "Rosa Mística do Cristo”, sendo considerado o primeiro Templário a pisar em terras brasileiras, com certeza uma familia nobre portuguesa que estava pelo menos nas aparências totalmente integrada na sociedade cristã.
O que realmente levou essa família nobre a abandonar Portugal e sair numa aventura a procura de reconstruir uma nova vida no Brasil?
A Família Antunes Rodriques com certeza tinha planos no Brasil, que ia além do comércio e do desenvolvimento econômico da colônia portuguesa, mas o que parece que o plano de abandonar Portugal seria a volta ao judaísmo na qual acreditavam que no Brasil estariam longe das garras do Santo ofício e poderiam viver de certa forma livre, para praticar as crenças e os costumes judaico.
No Brasil vão fixar sua residência em Matoim, no Recôncavo Baiano, onde ergueriam um engenho de açúcar, que em pouco tempo seriam um dos engenhos mais bem-sucedido da região, expandindo seus negócios em novas áreas de comércio os tornando uma das famílias mais ricas e influentes da região.
Os Antunes Rodriques tiveram 7 filhos, e todos eram casados com cristãos velhos ligados a elite local, talvez essa era a forma de manter certas "aparências", serão conhecidos como "a gente de Matoim", uma familia que no Brasil se auto definiam como descendentes direto da dinastia dos Macabeus.
Já fixados na região se sentirão seguros para construir ao lado de sua casa uma sinagoga na qual era conhecida entre os cristãos novos como a “Esnoga de Matoim”.
Os dados que temos é que parece que por volta de 30 anos funcionou na residência dos Antunes Rodriques uma pequena comunidade Judaica ativa, e quando Heitor Antunes morreu, Ana Rodrigues enterrou seu marido dentro do ritual judaico, em terra virgem, corpo lavado e embrulhado numa mortalha de linho e durante 7 dias ficaram em casa de Luto.
Com a Morte do Marido, Ana Rodriques vai assumir o controle não só dos negócios da familia, mais a continuidade da vida judaica transformando sua residência em verdadeiro templo judaico, onde ensinava as tradições da antiga lei aos filhos e principalmente aos seus netos, em sua casa mantinha abertamente os costumes judaicos, seja nas comemorações do Jejum de Yom Kipur, Jejum da Rainha Esther em Purim, faziam Matzot (Pão ázimo) para o Pessach e casa limpa, roupa lavada e acendiam candeia no Shabat e não se trabalhava nesse dia, e em sua casa não entrava carne de porco, lebre, ou qualquer alimentação proibida como no costume alimentar judaico.
Mas tudo vai mudar a partir de junho de 1591 com a chegada do enviado especial do Santo ofício ao Brasil o inquisidor Furtado de Mendonça, que vai ouvir várias denúncias da existência, de uma comunidade judaica ativa em Matoim, que era considerada a mais antiga e tradicional sinagoga em funcionamento que se tinha notícia nesse período no Brasil colonial.
A partir desse momento não somente a vida da familia Antunes Rodriques estará ameaçada, mas um terrível medo vai se espalhar em todos os cristãos novos que viviam no Brasil.
Ana Rodriques nesse período da chegada do Inquisidor tinha por volta de seus 80 anos! O Inquisidor vai ouvir muitos gritos de denúncias dos delatores, que pediam que cessassem de imediato as práticas judaicas em Matoim, que era considerada por muitos num claro sinal de resistência e enfrentamento ao Santo Ofício.
A presença da Inquisição acabara com o funcionamento da comunidade judaica de Matoim, sua sinagoga será fechada e seus bens serão confiscados e muitos de sua família serão presos e processados, mas as maiores denúncias cairão sobre Ana Rodrigues, denunciada com maior gravidade principalmente, por não mostrar nenhum arrependimento de seus atos, ao contrário se manteve firme na sua crença e fé nas leis de Moisés.
Ana Rodriques sabia de forma clara as consequências de seus atos, principalmente por não mostrar nenhum arrependimento com o Santo Ofício e nem se quer vai pedir perdão para que fosse amenizado suas culpas, parece que sabia que estava predestinada a morrer, mas queria morrer como judia sem abrir mão de sua fé.
Será enjaulada e enviada a Portugal para ser julgada pela inquisição, no processo de seu julgamento, serão conhecidos não somente uma variedade de práticas judaicas que mantinha em sua residência, mas também suas blasfêmias que pronunciava quando seus filhos usavam uma cruz, ou um de seus netos fossem sem sua autorização batizada na igreja, era inacreditável a coragem dessa anciã que parece que com a idade perdeu qualquer medo de se expor da sua verdadeira crença, e ficou conhecida como A “Macabéa”.
Ana Rodriques de certa forma vai se vingar de seus inquisidores morrendo no cárcere, sem ter que passar por torturas e se apresentar frente ao Santo ofício!
O Ódio dos inquisidores a Ana Rodriques, é algo que vai além de nossa imaginação, pois morreu sem abrir mão de sua crença ou pedi perdão por seus atos, e isso que levará o Santo ofício a julga la e processa-la, mesmo já morta!
Seus ossos serão desenterrados, “queimados e feitos em pó em detestação de tão grande crime”. Será amaldiçoada pelo santo ofício, seus restos serão enviados de volta ao Brasil e exposto na Igreja de Matoim como exemplo a todos aqueles que se levantam contra a fé cristã.
Como os Macabeus em 167 a.C. lutou contra a intolerância religiosa e não abriu mão em nenhum momento de sua fé as leis de Moisés. Assim fez Ana Rodriques que deverá ser lembrada como uma grande heroína, A Macabéa em Terras, Brasileira.
Fontes -
Um Israel possível na Bahia colonial: sobre mulheres e resistência judaica em tempos de perseguição - Angelo Adriano Faria de Assis Revista Digital Arquivo Maaravi
O Licenciado Heitor Furtado de Mendoça, inquisidor da primeira visitação do Tribunal do Santo Ofício ao Brasil. Angelo Adriano Faria de Assis Doutor em História pela UFF
Tributo à judia Ana Rodrigues - Tributo à judia Ana Rodrigues | Itu.com.br
Criptojudaísmo no feminino. Uma análise da Resistência judaica na Bahia Quinhentista a partir das fontes da I Visitação do Santo Ofício ao Brasil Angelo Adriano Faria de Assis

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