JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Expulsão, conversão e exílio dos judeus portugueses - Helio Daniel Cordeiro

Meyer Kayserling acreditava que, se Iehuda Abravanel (Leone Ebreo) houvesse escrito sua obra não em italiano, mas em hebraico, como seu pai, teria sido apreciado igualmente ou mais do que este por seus correligionários.
Como, porém, veio a dedicar-se a pesquisas astrológicas e devaneios filosóficos, em lugar de especulações talmúdicas, movimentando-se de preferências nos círculos de cristãos eruditos, antes que nos de judeus religiosos, ele e sua obra pouca atenção despertaram entre seus companheiros de fé. A intriga e o proselitismo cristão chegaram a divulgar que se havia convertido ao cristianismo(1).
A partir do século XVI, a história dos judeus sefaradis se passa não só em Portugal, mas na Itália, Holanda, Turquia, Marrocos, Síria e no Brasil. Converções forçadas e Inquisição provocam a diáspora luso-judaica que ampliará o mapa mundial e exportará para as novas terras as idéias européias.
Estes judeus eram conhecidos não apenas por suas avançadas atividades comerciais, mas igualmente por seu nível cultural: eram médicos, advogados, astrônomos, teólogos, fisósofos, tradutores. Iehuda Abravanel, conhecido entre os sábios italianos como Leone Ebreo, escreveu em Gênova seu livro mais importante, os Diálogos de Amor, onde através de uma linguagem poética pretende conciliar Platão e Aristóteles, subordinando ambos ao misticismo da escola neoplatônica e da Cabala.
Voltando aos judeus em Portugal, Isaac Aboab (o último gaon de Castela), iniciou com 30 dos mais proeminentes judeus de castelhanos uma viagem para Portugal a fim de negociar com o rei Dom João a acolhida destes exilados.
Determinou que estes judeus se estabeleceriam na rua São Miguel, na cidade do Porto, onde também se encontrava a velha sinagoga. O gesto do rei português deveu-se não por compaixão aos refugiados, mas visando os lucros econômicos que ganharia com a vinda dos mesmos.
Após a morte de Dom João II, subiu ao trono português seu sobrinho Dom Manuel, amigo e protetor das ciências e das artes, que designou o astrônomo e cronista Abraham Zacuto para o serviço real. Antes de mandar o navegador Vasco da Gama iniciar sua viagem de descoberta da nova rota para as Índias, encarregou Zacuto de analisar a viabilidade do empreendimento.
Foram os trabalhos de Zacuto que possibilitaram a Gama e muitos navegadores a concretização de suas descobertas marítimas. Zacuto usou e aperfeiçoou as tabelas astronômicas elaboradas pelo toledano Isaac ibn Sid, conhecidas como as Tabelas Afonsinas. A obra principal de Abraham Zacuto é o Almanach Perpetuum. Seu discípulo, José Vizinho, traduziu-o para o espanhol e daí foi vertido para o hebraico.
Como já era tradição na história dos judeus portugueses, a felicidade que desfrutavam com o rei Manuel durou pouco. Interesses políticos suplantaram sua benevolência anterior. O rei português ambicionava reunir toda a Península, o que se materializaria casando-se com uma princesa castelhana. Os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela também tinham razões políticas muito fortes para promover este matrimônio. Assim casou-se Manuel com a filha dos reis católicos, também chamada Isabel. Esta união matrimonial (e política) selou de modo trágico o destino dos judeus em Portugal. Viriam as conversões forçadas.
A 30 de novembro de 1496 foi assinado o contrato matrimonial entre Dom Manuel e Isabel. No domingo, 24 de dezembro, promulgou o rei (segundo algumas fontes em Muja, onde se encontrava caçando, segundo outras em Presmona, perto de Santarém) a ordem que obrigava todos os judeus a deixarem Portugal no prazo de dez meses, até fins de outubro de 1497, sob pena de morte e confisco de seus bens. Sob nenhum pretexto seria permitido a qualquer judeu habitar dentro das fronteiras do país ou nele permanecer depois de expirado este prazo.
Segundo Kayserling, o rei português tencionava no início agir com certa benevolência, permitindo a saída livre dos judeus, levando seus bens e publicando ainda uma ordem para que os cristãos saudassem suas dívidas. Manuel esperava que os israelitas preferissem voluntariamente se converter e continuar em Portugal a se aventurarem para terras desconhecidas. Quando se deu conta de que a maioria estava prestes a partir, encheu-se de fúria.
Em total contradição com o que havia proposto, decidiu que não deixaria os judeus partirem com suas imensas fortunas. Iria elaborar uma estratégica para mantê-los em Portugal, para conservar no país as potencialidades econômicas e intelectuais judaicas. Detalhe importante: para agradar à Espanha, o status religioso dos judeus teria de ser mudado a qualquer custo. Nascia então o cristão-novo português, por decreto real.
Em fevereiro de 1497 o Conselho de Estado levantou a questão de ser ou não ser permitido batizar os judeus contra a sua vontade. Fernando Coutinho, presidente do Tribunal Supremo e bispo de Silves, declarou: "Todas as medidas de força e perseguição não conseguem transformar um único judeu em verdadeiro cristão. Todos os sábios e também eu, menos sábios de que todos, provamos por meio de diversas decisões judiciais e com provas de autoridades que não se pode obrigar os judeus a aceitar uma religião que, como a cristã, requer e exige a liberdade e não a violência."
O prazo de saída para os judeus deixarem o reino se aproximava e eles não encontravam meios de fugir do país. Escreve Kayserling: "O fatídico outubro aproximava-se cada vez mais. Os pais de famílias judias mais destacadas dirigiram-se ao monarca com o humilde pedido de que lhes fossem indicados os três portos de embarque, prometidos pelo rei. Dom Manuel fê-los esperar de um dia para o outro, até vencer-se o prazo de emigração, declarando finalmente que viessem todos para Lisboa e não saíssem de nenhum porto que não fosse o da capital. A única solução era a obediência. Mais de 20 mil apinharam-se em Lisboa e, lá chegados, foram levados como carneiros para os Estaos, onde lhes foram comunicado que, havendo expirado o prazo, eram considerados agora escravos do rei, que com eles agiria a seu bel-prazer.(2)"
A princípio, Dom Manuel tentou convencer os judeus a aceitarem o cristianismo, prometendo-lhes honrarias. Percebendo que seus esforços eram inúteis diante da firmeza da fé dos jovens judeus, ordenou a seus guardas que se atirassem também sobre estes, como alguns meses antes o haviam feito com as inocentes crianças. Sem diferenças de sexo, os filhos mais fortes e belos foram arrancados aos pais, de modo o mais desumano. Eram agarrados pelos braços e pelos cabelos e arrastados até as igrejas, onde se lhes respingava a água batismal. Recebiam nomes cristãos, sendo depois entregues aos habitantes do país, para serem educados na doutrina católica.
É oportuno a menção do poeta Garcia de Resende, que contemporâneo destes fatos, escreveu a respeito crônicas rimadas que refletem a idéia do poder dominante, como a que segue(3):
Hos judeos vii caa tornados
todos nuo tempo christãos,
hos mouros entã lançados
fora do reyno passados

Vimos synogas, mezquitas,
em que sempre erã dictas
e preegadas heresias,
tornadas em nossos dias
igrejas sanctas benditas.

Entre os judeus mais proeminentes que opuseram resistência à tirania real, encontra-se Abraham Saba, imigrado em 1492 de Castela e autor de um comentário sobre o Pentateuco, que conseguiu fugir de Portugal para Fez, no Marrocos.
Saba, envolvido em misticismo, era no que se refere ao dogma da ressurreição, um defensor do particularismo rigoroso e fazia depender, talvez como David Vital, a vida futura na crença nos 13 artigos. No entanto, pregara a tolerância e dizia, baseando-se num princípio fundamental talmúdico, que quem reconhecesse a unidade de Deus, devia ser aceito também como judeu.
Também o sábio Isaac Joseph Caro (tio do ainda mais célebre Yosef Efraim Caro, que fugiu de Toledo para Portugal, perdendo tragicamente todos os seus filhos), Joseph Habib (parente do gramático Moisés Habib, que teve de deixar Lisboa já 20 anos antes). Todos estes talentos do judaísmo lusitano emigraram para a Turquia. Quanto aos judeus que não puderam fugir de Portugal, "eram cristãos apenas na aparência. Suas almas não estavam manchadas pelo batismo e, com uma tenacidade que os dignificava, continuaram fiéis ao judaísmo e suas leis, como cristãos aparentes ou novos (marranos)(4)".
O fato de após as conversões forçadas não haver ainda em Portugal um Tribunal do Santo Ofício, e a atitude relativamente tolerante assumida por Dom Manuel nos últimos anos de seu reinado, foram fatores que influíram no desenvolvimento posterior do fenômeno do marranismo português.
As condições político-sociais a que os marranos se viram sujeitos no correr do século, marcaram, com características essencialmente diferentes, os rumos da história dos marranos de Portugal. Tanto no seu aspecto social como no seu aspecto político-econômico, foi muito mais rico em conseqüências o papel representado do que pelo cripto-judeu espanhol.
Os judeus haviam sido expulsos de Portugal, suas sinagogas demolidas ou transformadas em igrejas, os cemitérios convertidos em pastos, praças públicas e as pedras usadas para construções. Entretanto, não foi fácil exterminar o judaísmo português. Dom João III, que subiu ao trono após a morte de seu pai Dom Manuel, a 13 de dezembro de 1521, não havia completado 20 anos quando iniciou seu reinado. Portugal não tivera ainda rei de visão mais estreita e ignorante. Ainda criança, nutria o sonho de sua avó, Isabel de Castela, de expulsar os judeus hereges do seu país. Logo após coroado, empenhou-se em introduzir a Inquisição em Portugal.
Em 1524, mesmo ano que os judeus do Egito foram severamente perseguidos por um paxá, João III ordenou que se fizesse inquirições secretas sobre o modo de viver de milhares de criptojudeus de Lisboa. Jorge Temudo, a quem fora confiada a tarefa de espionar os marranos, constatou que estes não iam à igreja aos domingos e dias santos, festejavam o Shabat e Pessach (a Páscoa), não enterravam seus mortos em cemitérios católicos perto de conventos e capelas, mas em terrenos virgens, não pediam os sacramentos na hora da morte e não estipulavam nos testamentos somas para a celebração das missas.
Vivia na corte real naquela época um judeu batizado chamado Henrique Nunes. Devido ao entusiasmo com que perseguia seus antigos correligionários, recebeu o apelido de Firme Fé. Nascido em Borba, de pais judeus, seguiu para Castela onde se converteu e entrou para o serviço de Lucero, o mais feroz e cruel de todos os inquisidores espanhóis. Adquiriu logo tamanha habilidade na arte da tortura que o teólogo Pedro Margalho o recomendou ao rei Dom João, que o chamou das Ilhas Canárias para organizar a Inquisição em Portugal.
O monarca ordenou-lhe que entrasse em contato com os judeus secretos, aparentando ser irmão e correligionário, que vivesse entre eles e averiguasse suas crenças religiosas. Depois de tê-los localizado em Lisboa, Santarém e outras localidades, seguiu para Évora, residência momentânea da corte. Os judeus, traídos, reconheceram que o impostor, pretextando amizade, não passava de indigno delator, do qual tinham de livrar-se a qualquer preço. A caminho para Badajoz, em Valverde, foi esfaqueado e morto em 1524.
Naquela época chegou a Portugal um judeu que se designava príncipe de uma casa real judaica e delegado das dez tribos perdidas. Este homem, David Reubeni, tinha estranha aparência: preto, miúdo, esquelético e no entanto cheio de coragem, arrojo e de comportamento decidido.
Após ter visitado os supostos túmulos dos patriarcas em Hebron, permanecido diversas semanas em Jerusalém, Alexandria e Cairo, dirigiu-se para Veneza e Roma, onde foi recebido pelo papa Clemente VII, que o tratou com grande consideração. De Roma embarcou para Portugal, seguindo para Tavira, Beja e Évora. Passou algum tempo em Santarém e em novembro de 1525 chegou a Almerim, onde Dom João mantinha sua corte.
O aparecimento de Reubeni fascinou Portugal. Diogo Pires, jovem sonhador neocristão de 24 anos, mais conhecido como Salomão Molcho. Nascido em Portugal como cristão-novo, Recebeu Pires-Molcho educação refinada, que lhe permitiu preencher o cargo de escrivão do foro de apelação. Considerando que o jovem escrivão, poucos anos depois compôs uma obra em hebraico, tornou-se autor de uma poesia sinagogal aramaica, de onde supõe-se que talvez já tivesse na mocidade adquirido conhecimento do hebraico e rabínico.
Quando Reubeni apareceu em Portugal com seus projetos e fantasias mirabolantes, Pires passou a ser atormentado por visões e sonhos violentos de fundo messiânico. Aproximou-se de Reubeni para que este o elucidasse a respeito dos seus devaneios místicos. No entanto, foi recebido friamente e quase repelido. Pensando que o dito príncipe o ignorasse por não trazer ainda em si o sinal da circuncisão (brit milá), sujeitou-se a essa perigosa e dolorosa operação, de que resultou uma hemorragia que o acamou.
Após recuperar-se, Pires teve diversas visões, que quase sempre se referiam à libertação messiânica dos cristãos-novos. Declarou também ter recebido em sonho ordens do céu para abandonar Portugal e seguir para a Turquia.
O jovem cabalista e sonhador, recém reingressado ao judaísmo, atraiu atenção em toda a parte. Viajou pela Turquia, permaneceu por longo tempo em Israel, especialmente em Sfat, fez inúmeros sermões, dos quais, a pedido dos seus adeptos, publicou um resumo em Salônica em 1529, e cujo conteúdo principal se refere ao breve início da era messiânica. Suas idéias se espalharam pelas comunidades judaicas de Portugal, onde muitos marranos voltaram publicamente à religião judaica, desencadeando matanças e muitos deles e reacendendo o desejo do monarca introduzir o Santo Ofício no reino.
Por seu lado, os cristãos-novos portugueses escolheram para defender sua causa um homem hábil e ativo: Duarte da Paz. Ele desempenhou durante muitos anos um papel tão importante quão misterioso. De sua origem pouco se sabe. Forçado ao batismo quando jovem, ocupou diversos cargos militares, foi condecorado com a Ordem de Cristo em recompensa à bravura que demonstrou na guerra africana e, de volta à pátria, foi empregado várias vezes a serviço do Estado.
Duarte da Paz prestava-se extraordinariamente à diplomacia. "De aparência imponente, apesar de ter perdido uma vista na guerra, belo, de maneiras finas e cativantes, era corajoso, ativo, impetuoso e loquaz"(5). Estabeleceu-se em Roma, onde foi defender a causa dos perseguidos marranos diante do papa Clemente VII.
O papa ficou indignado ao ouvir as notícias trazidas por Duarte da Paz, de que o rei de Portugal desejava estabelecer a Inquisição para confiscar os bens dos condenados. Paz exigia que os bens dos cristãos-novos não fossem entregues à Igreja ou ao Estado, mas aos seus herdeiros naturais.
Enquanto se negociava o estabelecimento da Inquisição, os refugiados de Portugal tinham permissão de permanecer em território pontifício. Não eram perturbados por inquirições e podiam professar livremente o judaísmo. Clemente VII permitiu cordiais relações entre cristãos e judeus na Itália.
Mas o ouro acabaria falando mais alto. Enquanto puderam, os marranos portugueses suplantaram as propinas do rei de Portugal junto ao papa. Mas Estado e Igreja juntos ganhariam o voto papal para o estabelecimento da Inquisição no reino português. Para complicar a história, Paz se desentendeu com seus correligionários, pois prometera ao papa bens acima do que aqueles poderiam pagar.
A 23 de maio de 1536, o novo papa, Paulo III, publicou a bula na qual a Inquisição foi definitivamente proclamada em Portugal, suspendendo-se todos os privilégios anteriores e éditos pontifícios (excetuando-se aquele breve que o papa e seus parentes, permitindo-lhes que emigrasse de Portugal, com a determinação de que, nos primeiros três anos, fosse mantido o procedimento comum em processo civel, e nos primeiros dez anos, os bens dos condenados não fossem entregues ao fisco, mas aos parentes próximos).
Diariamente, a Turquia e a Síria acolhiam famílias de judeus portugueses. Em Ferrara e Veneza formaram-se grandes comunidades de refugiados lusitanos. França e especialmente a Holanda incrementaram sua indústria e comércio com as riquezas trazidas pelos emigrados criptojudeus que o fanático chefe de um país esgotado e desmoralizado afugentava com maníaca inistência. Muitos dos marranos que não conseguiram fugir de Portugal (e foram muitos), refugiaram-se em terras menos acessíveis, como de Trás-os-Montes.
Desde o início do século XVI os criptojudeus passaram a abandonar Portugal, em grupos ou individualmente, espalhando-se pelos principais países da época, onde já haviam judeus estabelecidos e gozando de liberdade religiosa. Kayserling destaca a presença dos marranos pelas terras italianas. "Enquanto a Inquisição, por aspirações hierárquicas e um falso entusiasmo pela fé, afugentava-os de Portugal, ou os eliminava pela ação do Tribunal, acolhia-os a própria hierarquia, o baluarte da fé, Roma e o Vaticano."
E continua: "Absorvidos por interesses privados e tencionando criar para si um poderio secular, os papas Clemente VII e Paulo III já haviam oferecido asilo aos criptojudeus refugiados de Portugal, garantindo-lhes, por escrito, que poderiam praticar abertamente o judaísmo e executar seus ritos sem a menor interferência."
Os papas protegiam estes israelitas, pois sabiam apreciar suas habilidades industriais e tinham por ambição constante fomentar o florescimento do comércio de Ancona. Graças a tais privilégios, esta cidade ficou repleta de judeus portugueses (em 1553, cerca de três mil), tornando-a localidade rica e poderosa.
Em Bolonha, Nápoles e Veneza construíram-se florescentes comunidades de imigrantes portugueses recém chegados, cujo número elevado levou um abade do Porto - Fernando de Goes Loureiro - a compilar em fins do século XVI, um livro inteiro com os nomes daqueles judeus secretos que na Itália retornaram abertamente ao judaísmo, calculando ao mesmo tempo as somas elevadas de que foi privado o seu país de origem.(7). Como se vê, para os padres portugueses, tudo girava em torno de dinheiro e bens materiais. A questão judaica em Portugal era na verdade uma questão financeira, muito mais de que religiosa.
Os sefaradis na Itália deixaram para o mundo uma importante contribuição cultural, como provam edições de livros significativos - como Consolações às Tribulações de Israel, de Samuel Usque(8). - Usque não escreveu uma história cronológica, mas antes salientou os momentos importantes dos sofrimentos de Israel. Sua intenção principal era consolar seu povo que retornava ao judaísmo, fortalecendo-os no amor pela religião-mãe com uma visão do seu próprio passado e da ação paternal da providência.
Influiu na educação e na formação moral dos judeus portugueses um parente seu, também morador de Ferrara, Abraham Salomão Usque, que sob o nome de Duarte Pinhel vivia em Lisboa em 1543. Estabelecido em Ferrara, montou ali uma grande impressora, que fornecia aosantigos criptojudeus livros de oração e obras religiosas em espanhol, português e hebraico. Ali foi editada a famosa Bíblia de Ferrara, por conta do espanhol Yom Tob Levi Athias (Jerônimo de Vargas).
Salomão Usque, o terceiro personagem de realce desta família, tinha suas atividades voltadas para a lírica. Em 1567 traduziu diversas poesias de Petrarca para o espanhol, o que causou a admiração dos seus contemporâneos e interpretou, em conjunto com outro judeu (Lazaro Graciliano), um drama espanhol, traduzido para o italiano por Leone de Modena - Ester - baseado na história trágica da rainha perso-judia.
Amatus Lusitanus (João Rodrigues), foi médico célebre em toda a Itália. Nascido em 1511, dedicou-se ao estudo da medicina, exercendo-a em Salamanca e em Santarém. Seu irmão mais novo, Elias Montalto, também médico, a conselho de Cencino Cencini, para ocupar o cargo de médico particular da rainha Maria de Médici, em Paris. Esta não somente concedeu-lhe liberdade religiosa, como promoveu-o a conselheiro.

Notas:
1) Meyer Kayserling: História dos Judeus em Portugal (Ed. Pioneira, São Paulo, 1971), p. 93.
2) História dos Judeus em Portugal, 115.
3) Miscellanea (Évora, 1554).
4) História dos Judeus em Portugal, p. 120.
5) História dos Judeus em Portugal, p. 164.
6) História dos Judeus em Portugal, pp. 221-222.
7) Chathalogo dos Portuguezes Christãos-novos que se hião Declarar Judios a Italia com a Relacao dos Copiosas Sommas de Dinheiro que Levantão.
8) Ferrara, 1552.

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