JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Nas suas primeiras décadas de história, Israel atraía principalmente judeus seculares em busca de construir um país. Viviam em kibutz e ergueram uma nação de primeiro mundo no Oriente Médio, com uma democracia vibrante e educada. Travaram guerras e venceram, em uma época em que realmente a existência do Estado judaico não era garantida. Como todas as nações do mundo, cometeram erros.
Nas suas últimas décadas de história, israelenses seculares e liberais passaram a emigrar para os Estados Unidos e outras partes do mundo. Algo normal, que também ocorre entre os brasileiros, chineses, indianos, turcos, libaneses e mesmo americanos em direção à Europa e Ásia. Por outro lado, Israel passou a atrair judeus mais religiosos. Vindos de diferentes partes do mundo, eles sonham com as yeshivas, e não os kibutz.
A democracia construída nos tempos de Ben Gurion, com o crescimento demográfico desta parcela da população, começou a provocar efeitos adversos. Alguns apelam para ataques terroristas contra os árabes de Israel e da Cisjordânia. Outros restringem os direitos das mulheres, as proibindo de andar na frente dos ônibus e cuspindo em uma menina de oito anos por suas roupas não serem conservadoras o suficiente.
Neste momento, o governo de Israel precisa agir com dureza para manter a democracia de seu país, evitando uma deterioração do cenário. Nos países vizinhos, como a Síria e o Egito, havia bem mais liberdade para as mulheres nos anos 1970 do que atualmente. Vou mais longe, Alexandria e Aleppo eram mais liberais nos anos 1920 do que hoje. Jerusalém não deveria seguir o mesmo caminho.
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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal “O Estado de S. Paulo” e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti

http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/a-verdadeira-batalha-de-...

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Saiu no Radar Global do Estadão de hoje 21.01

O TALMUDE E A LUXÚRIA

Em Israel, radicais ultraortodoxos violam a lei judaica ao tentar impor suas regras absurdas às mulheres

POR DOV LIZNER, DO NEW YORK TIMES*

É possível que uma exigência religiosa de recato represente alguma outra coisa, a não ser o controle do corpo das mulheres pelos homens? A julgar pelos fatos ocorridos recentemente em Israel, ela representa apenas isso.

No mês passado, Naama Margolese, uma menina inocente de 8 anos e ortodoxa, foi difamada e enxovalhada por extremistas religiosos – todos homens – que acharam que ela não estava vestida com o recato necessário quando passou por eles, quando se dirigia para a escola religiosa que frequenta.

Cada vez mais, os ônibus de transporte público em Israel estão estabelecendo uma segregação de gênero imposta pelos usuários ultraortodoxos nos seus bairros ou áreas próximas. Infeliz a menina ou a mulher que não aceitar se sentar na parte de trás do ônibus.

Tudo isso é parte de uma batalha mais ampla que vem sendo travada em Israel entre os ultraortodoxos e o restante da sociedade israelense sobre o lugar da mulher na sociedade, o direito de ela ter uma presença visível e participar da esfera pública.

O que está por trás desses fatos profundamente inquietantes? Afirmam que eles têm base na preocupação religiosa com a decência, que as mulheres precisam estar cobertas e segregadas para os homens não alimentarem ideias libidinosas. Parece, assim, que um princípio religioso que se refere aos pensamentos sexuais dos homens tem como resultado homens controlando o corpo das mulheres.

Esse não é um problema exclusivo do judaísmo. Mas o Talmude, a base da lei judaica, oferece uma resposta talvez surpreendente: a responsabilidade pelo controle das ideias dos homens sobre as mulheres é honestamente dos homens. De modo explícito, o Talmude diz: “Este é problema seu, meu senhor; não delas”.

Lógica invertida. Os ultraortodoxos que vêm exercendo em Israel controle sobre as mulheres alegam que as estão reverenciando: não tratamos as mulheres como objetos sexuais como ocorre na sociedade ocidental. Nossas mulheres são mais do que o seu corpo – e é por isso que o corpo delas precisa ser coberto completamente. É o que afirmam.

Na verdade, as ações desses homens tornam as mulheres um objeto e acentuam a conotação sexual. Pense nisso: ao afirmar que todas as mulheres precisam ocultar seu corpo, eles estão dizendo que toda mulher é um objeto que pode estimular a sexualidade nos homens.

Assim, cada mulher que passar pelo campo de visão deles é avaliada com base no quanto o seu corpo está coberto. Não é vista como um ser humano completo, mas como um potencial incentivo ao pecado.

Naturalmente, quando você julga um ser humano do sexo feminino por meio da obsessão sexual de um homem, até mesmo uma menina de 8 anos pode ser vista como uma sedutora e prostituta.

No fundo, estamos falando de uma mentalidade do gênero a vítima é que é culpada. A responsabilidade de um homem de controlar seus impulsos sexuais não é mais dele, ela é transferida para qualquer mulher com a qual ele pode, ou não, deparar. Uma noção muito próxima de outra, generalizada, de que “ela estava procurando isso”.

Assim, a responsabilidade agora passou para as mulheres. Para proteger os homens contra seus pensamentos libidinosos, as mulheres precisam ocultar sua feminilidade em público, desfazendo-se da mínima evidência da própria sexualidade. Tudo isso está sendo feito em nome da Torá e da lei judaica. Mas na verdade é uma total perversão.

O Talmude, novamente, reconhece que os homens podem ser sexualmente despertados pelas mulheres e, na realidade, preocupa-se com os pensamentos e as atividades sexuais fora do casamento. Mas não diz para as mulheres que os impulsos sexuais dos homens são responsabilidade delas.

Pelo contrário, tanto no Talmude quanto nos dispositivos da lei judaica, essa responsabilidade é dos homens. Segundo o Talmude, é proibido um homem olhar de modo libidinoso para uma mulher, seja ela bonita ou feia, casada ou solteira. Os rabinos ampliaram essa proibição, dizendo ser proibido olhar “para o seu dedo mindinho” e “suas roupas coloridas – mesmo se estiverem secando no varal”.

Tornar isso responsabilidade da mulher é exigir que elas ocultem suas mãos e não sequem suas roupas em público. Ninguém jamais disse isso. Pelo menos até agora. O Talmude, na verdade, diz ao homem religioso: se você tem um problema, resolva-o. É o olhar masculino – a maneira como os homens olham as mulheres – que tem de ser despojado de luxúria. São os homens que têm de se controlar, não encarando as mulheres como objeto de satisfação sexual.

A tradição judaica ensina a homens e mulheres que devem ser recatados no vestir. Mas recato não é definido pelo quanto o corpo de uma pessoa é oculto. É definido pela conduta e atitude. Reconhecer que uma pessoa não precisa ser o centro de atenção. Assimilar a exortação à decência do profeta Micha: aprender a “andar humildemente com o seu Deus”.

A menina Naama, de 8 anos, pode ensinar seus agressores uma ou duas coisas sobre decência.

*É RABINO ORTODOXO E DIRETOR DA YESHIVA (CENTRO DE ESTUDOS JUDAICOS) CHOVEVEI TORAH RABINICAL SCHOOL, DE NOVA YORK

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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