JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

ENTREVISTA COM ABRAHAM B. YEHOSHUA Com Roberto Katz especial a Paraty para Folhapress



ENTREVISTA COM ABRAHAM B. YEHOSHUA

ROBERTO KAZ
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Aos 73 anos, Yehoshua diz saber que a literatura tem um poder lento e limitado de mudança. Por isso, além de escrever, ele costuma palestrar, em diversos países, para promover o ideal sionista (que defende o retorno dos judeus a Israel).

Foi em um desses discursos, nos EUA, que Yehoshua lançou a máxima: a de que uma existência judaica só pode ser completa se vivida em Israel. "Se não", disse à Folha, "é como um homem que ama sua mulher, mas prefere viver sozinho. Se você a ama, case-se".

Leticia Moreira/Folhapress
O escritor Abraham B. Yehoshua posa em pousada em Paraty, durante a oitava edição da Flip
O escritor Abraham B. Yehoshua posa em pousada em Paraty, durante a oitava edição da Flip

JUDEU NÃO RELIGIOSO

Embora exagerado quanto ao que chama de "plena identidade judaica", Yehoshua carrega uma estranha ambiguidade: não é religioso. "Antes de o Estado de Israel ser fundado, os judeus não tinham um componente nacionalista. Por isso, toda energia se voltou para a religião. Agora não, temos um país, uma língua. Posso queimar a bíblia e continuar sendo judeu. A religião é apenas um dos nossos legados", diz.

Ele não é o primeiro israelense convocado à Flip para tratar de política. Há três anos, Amos Oz veio a Paraty para pensar "o papel da literatura na luta contra a injustiça". Yehoshua concorda que o contexto de guerras de seu país serve como garoto-propaganda: "Não somos publicados apenas por isso, mas ajuda. Quando a literatura sul-americana era muito popular, se devia à qualidade da escrita de alguém como Borges aliada às disputas civis na Argentina da época".

Ultimamente, todavia, ele anda mais interessado nos meandros da engenharia mecânica: o elevador de seu prédio ainda não foi consertado.

Veja a íntegra da entrevista:

Folha - Como é possível ser sionista e ateu ao mesmo tempo?
Abraham B. Yehoshua - Um francês pode escolher se é católico e um americano pode escolher se é protestante. Mas quanto ao israelense, costuma-se colocar nacionalidade e religião na mesma palavra. Os fundadores do sionismo eram intelectuais. Judeus não são uma religião, mas um povo. Sou a favor do retorno dos judeus, só isso.

Como é vir ao país após a visita de nosso presidente ao Irã?
Se Lula estiver se aproximando do Ahmadinejad para moderar o país, serei o primeiro a dar as boas vindas. Me pergunto por que os iranianos precisam de bomba atômica. Se eles jogam em Tel-Aviv, Israel acaba. Não entendo a obsessão deles, pois nem sequer temos fronteiras em comum. E ninguém de Israel os está ameaçando.

Qual é o contexto político que marca a nova geração de escritores em Israel?
As novas gerações não lidam muito com política. Preferem falar de amor. Os jovens escritores não estão tão interessados em enxergar um panorama abrangente.

O senhor vem à Flip para discutir um tema político. Em 2007, o escritor israelense Amos Oz também veio discutir um tema político (o papel da literatura na luta contra a injustiça). É difícil publicar um livro despolitizado hoje em Israel?
Não acredito que sejamos publicados apenas por razões políticas, mas o contexto obviamente ajuda. Quando a literatura sulamericana era muito popular, isso se devia, antes de mais nada, à qualidade da escrita. Mas claro, o interesse por um autor como Borges surgia, também em função das disputas civis na Argentina daquela época. No caso da literatura israelense, há ainda um segundo componente: as pessoas costumam ter interesse pela cultura judaica, seja de forma positiva ou negativa. Judeus são inteligentes, complicados, misteriosos.

Em Israel, escritores costumam servir de porta-voz da população em momentos de crise política. De onde vem esse status social?
Isso vem do passado, da tradição dos profetas. Aqui, há um respeito pela palavra escrita. Mas é preciso não ficar tão calcado no texto. Lhe darei um exemplo: em Israel, a quantidade de judeus ultra ortodoxos tem crescido dia após dia. É um mau sinal. A maior parte deles não trabalha, apenas estuda, repetindo os mesmos ensinamentos de sempre. É preciso voltar os olhos para a vida.

Última pergunta: o elevador do seu prédio foi consertado?
Não.

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Comentário de Davy Bogomoletz em 9 agosto 2010 às 19:50
Estive com o Yehoshúa na noite de autógrafos na FLIP. Traduzi o livro que ele lançou ali - 'Fogo Amigo'. Ele não me perguntou o que achei do livro. Perguntou se eu tive prazer em traduzir. Isso diz muita coisa, não?
(E claro, o prazer foi enorme. O livro dele é um passeio pela existência humana, desde um personagem de dois anos e meio até um de quase setenta, passando por antropólogos africanos e por uma sudanesa de grande beleza e nobreza - e tristeza - pois sua tribo foi inteiramente massacrada por uma outra. Perguntei a ele o que aconteceu depois (do livro) com aquele menino (hiperativo, terrível) e com aquela mulher. Ele riu, levantou os ombros como quem lamenta não saber...
De fato, para quem não sabe como é a vida 'normal' do povo naquele país, esse livro é um curso de extensão de primeira classe. (Não estou fazendo publicidade. Apenas comentando. E achei engraçado, nessa entrevista, ele falar do elevador enguiçado no prédio dele. No livro, um casal é o centro da narrativa. O marido é um engenheiro - projetista de elevadores. Daí que o elevador é um dos personagens mais importantes do livro... E se eu soubesse quando o vi que ele estava com esse problema, teria perguntado por que ele não ligou para o Yaári pedindo uma ajuda...)
Davy.
Comentário de Paulo Blank em 8 agosto 2010 às 14:08
Em entrevista na Flipp yehoshua afirmou que prefieriu ler em Hebraico para lembrar que os judeus têm uma língua. Quem procurar no Youtube os filmes postados pela Fliip Vai encontrar uma homem sorridente e cheio d ehumor para dar.Quando o Amos Oz esteve na Flipp eu escrevi um artigo para o JB.Vou repúblicá-lo no Blog.
Comentário de Jayme Fucs Bar em 8 agosto 2010 às 12:49
ENTREVISTA COM ABRAHAM B. YEHOSHUA Com Roberto Katz especial a Paraty para Folhapress
Comentário de Jayme Fucs Bar em 8 agosto 2010 às 12:47
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