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Pessach: O lugar das mulheres
Por Sandra Kochmann
Se nos perguntarmos qual é o lugar que “tradicionalmente” ocupam as mulheres durante a celebração da festa de Pessach, a primeira – e até “instintiva”- resposta que surge é...a cozinha!!!
Esta resposta pode gerar um sorriso de orgulho ou de resignação em nós mulheres, ou talvez de aprovação e soberba em alguns homens. Mas, com certeza, deveria gerar em todos a sensação de insuficiência, de que “podia ser melhor ainda”...
O cuidado da casa, das regras alimentícias de Pessach e a preparação da comida festiva tão especial desta celebração – essa que fica em nossa memória de “cheiros e sabores inesquecíveis” e que nos marcam para toda a vida - fazem parte das grandes responsabilidades das mulheres judias no lar, na família e na transmissão das tradições e costumes judaicos às próximas gerações...
Mas – embora todas elas sejam muito importantes - estas não constituem as únicas “opções” de participação da mulher judia em Pessach!
Na busca de tornar a noite do Seder ainda mais especial para as mulheres – e, em conseqüência, para toda a família-, surgiram novas propostas e idéias que vão se transformando aos poucos em novas “tradições” desta festividade.
Como, por exemplo, Hagadot feministas” (ou “femininas”...) que, além das rezas e narrativas “tradicionais”, lembram as mulheres que participaram ativamente da história do êxodo do Egito. Entre elas, as parteiras que se recusaram a cumprir a ordem do Faraó de jogar no rio Nilo os meninos recém-nascidos do povo hebreu; ou Miriam, a irmã de Moshé, considerada uma profetiza, que ficou cuidando do seu irmãozinho flutuando na “cestinha” e cuja presença – no midrash - é relacionada com uma fonte d’água que acompanhou o povo ao longo da sua travessia pelo deserto; ou ainda Tzipora, a mulher de Moshé, que o salvou da morte ao fazer ela mesma o “Brit Milá” – o pacto da circuncisão - em seu filho...
Existe também a proposta de lembrar, paralelamente aos “Quatro Filhos” que – “tradicionalmente”- representam os diferentes tipos de pessoas que compõem o povo judeu, as “Quatro filhas” que compartilham junto e apesar das diferenças de gênero e de temperamento, a noite do Seder.
Finalmente, há propostas de incluir novos “símbolos” ao lado dos símbolos “tradicionais” da festa, para incentivar novas perguntas:
Um deles é o “Kos Miriam” - a “Taça de Miriam” - que é colocada ao lado da taça do Profeta Eliahu, mas com a diferença de estar repleta de água, lembrando o relato do midrash que relaciona a irmã de Moshé com este elemento vital.
Outro costume novo, que revela uma história interessante, é colocar uma “laranja no meio da Keará”, bem no centro do prato ritual de Pessach.
E que história é essa? Nos anos 80, a Dra. Susannah Heschel estava dando uma palestra sobre a possibilidade das mulheres serem ordenadas Rabinas. Foi interrompida por um homem que se oponha veementemente à ideia e disse: “Uma mulher no púlpito é como uma laranja no meio do prato de Pessach”.
Aquela afirmação, que parecia ser o cúmulo do contra-senso e que tinha a intenção de envergonhar as mulheres, foi muito pelo contrário, adotada como uma idéia a favor da luta das mulheres por um lugar mais igualitário dentro do Judaísmo em geral. Foi transformada em símbolo do anseio por igualdade, em todos os momentos da vida da mulher judia e no Seder de Pessach em particular.
Uma laranja no meio da Keará é uma novidade que chama a atenção e gera perguntas, que é justamente um dos objetivos do Seder de Pessach e dos símbolos colocados à mesa! É importante sublinhar que não é de maneira alguma prática proibida. Dá uma imagem nova e diferente à Keará, transmite cor, sabor e cheiro à nossa “tradição”, e.... “preenche um vazio” bem “no meio” da Keará, num lugar central das nossas comemorações!!!
“Ma nishtaná halaila hazé?...
Por que esta noite é diferente de todas as outras?”
É a pergunta “tradicional” desta festividade...
“Ma nishtaná?...”
Qual é o lugar “diferente” – renovado, mais central, acrescido - que a mulher pode – e deve - conquistar em nossos lares em Pessach?”
É a pergunta que deveria motivar-nos - tanto mulheres como homens -, a buscar novas idéias e propostas capazes de nos ajudar a renovar nossas “tradições” e rituais.
É assim que, sem perder nossa essência, jamais, mas procurando, através das inovações, cumprir os rituais riquíssimos de nossa tradição com renovado entusiasmo, vamos conseguir transmitir nossa herança para as novas gerações, e sentirmos – todos e todas JUNTOS! - como se “cada um, cada uma, tivesse mesmo saído de Egito”....
Chag HaPessach Kasher ve Sameach!
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