O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
Durante dezenas de milhares de anos, o homem observou a Terra como um lugar sagrado onde tudo estava cercado de divindade e a opinião dos historiadores é consensual ao afirmar que o primeiro deus foi a natureza! É a esta percepção de divindade que podemos atribuir o nome de panteísmo. Etimologicamente falando, o termo panteísmo deriva das palavras gregas pan ("tudo") e theos ("deus") sustentando a ideia de que o Universo, na forma de um Todo, é sinónimo do princípio teológico de Deus. Existem várias formas de panteísmo, na realidade existem tantas formas quanto o seu número de "crentes". No panteísmo somos líderes da nossa própria religião o que permite criar e/ou recriar um sentido de espiritualidade único. Frequentemente trata-se de um processo de auto-descoberta que se alicerça na percepção da divindade na natureza. Convém salientar que a maioria das pessoas desconhece a existência do termo que abarca precisamente o entendimento dessa descoberta e muitas pessoas podem, sem se aperceberem, ser panteístas!
No panteísmo moderno a afirmação "O cosmos é divino. A terra é sagrada." comporta duas convicções básicas. Em primeiro lugar, quando afirmamos que o cosmos é divino, fazemo-lo exactamente com a mesma convicção e emoção com que os crentes dizem que o seu deus é deus, mas ao contrário destes, nós não estamos a fazer uma afirmação metafísica que careça de ser comprovada ou negada. Estamos a fazer uma afirmação ética que comporta uma forma de relacionamento idêntica à forma segundo a qual as outras pessoas se relacionam com Deus, ou seja, com humildade, êxtase, reverência, celebração e a busca de uma compreensão mais profunda do próprio "eu". Quando afirmamos que a terra é sagrada, fazemo-lo exactamente com a mesma dedicação e reverência com que os crentes falam acerca da sua igreja ou mesquita, ou das relíquias dos seus santos. Não estamos a fazer uma afirmação acerca do sobrenatural. Declaramos apenas que devemos tratar a natureza da mesma forma que os crentes tratam dos seus templos e santuários, ou seja, com honra, respeito e dedicação.
Mais velho que o budismo, que o cristianismo ou que qualquer outra religião, há mesmo quem defenda que todas as religiões existentes não passam de simples permutações do panteísmo. Esta secção tem como objectivo apresentar uma retrospectiva das várias formas que o panteísmo reflectiu em diversas personalidades que marcaram o pensamento e história da humanidade.
Na Grécia Antiga, vários filósofos procuraram descobrir a base criadora do universo. Defendiam que se tratava de uma substância (material em vez de mental ou espiritual) única e unificadora de todas as coisas contidas no universo e cada um deles apresentou a sua própria teoria e respectivo elemento. Para Tales de Mileto, a substância primária seria a água.
Filósofo grego para o qual o ápeiron seria a origem de todas as coisas - uma substancia ilimitada, indefinida e indestrutível, do qual tudo surge e ao qual tudo reverte. Dele surgeriam os quatro elementos fundamentais: o quente e o frio (origem dos astros) e o húmido e o seco (origem do mundo e da vida orgânica).
Filósofo grego que identificou o ápeiron do seu mestre (Anaximandro) com o ar, do qual surgiriam as três matérias básicas: fogo, terra e água, e destas, tudo o resto. Para Anaximenes, essa seria inclusivamente a origem dos Deuses.
Filósofo grego influenciado pela escola de Mileto. Defendeu a origem natural de todas as criaturas e criticou as crenças mitológicas. Substituiu os vários deuses do Olimpo por um deus imanente à natureza.
Filósofo grego oriundo de Éfesos. Concebeu a natureza como um todo racionalmente ordenado num processo continuo de transformação, constituindo uma única realidade. Mesmo que nesse processo não houvesse coisas estáveis, ele continuaria a sê-lo, já que toda a mutação segue uma razão cósmica (logos) e uma medida (metrom) invariáveis. Heraclito também procurou um princípio comum às várias formas da matéria e identificou-o com o fogo.
Filósofo grego de origem semita que elaborou o sistema filosófico do estoicismo. Os estoícos acreditavam entre outras coisas que o universo era um ser animado e racional que inclusivamente possuia uma alma (composta por uma refinada forma de matéria).
Escolástico irlandês cuja maior obra, "De diviosiones naturae" declarava que "em última estância, Deus e a criação são um só... Enquanto natural, o criador do universo, é infinito, não está confinado por nenhum limites superior ou inferior. Ele abarca tudo em si e é cercado por nada."
Filósofo, astrônomo e matemático italiano. Adoptou uma visão panteísta da realidade ao defender a ideia de que a suprema e única substância é Deus ou Natureza e que nela se encontra contido todo e qualquer objecto, relação e evento que existe no universo. Segundo Giordani, o princípio do mundo não estaria fora dele, mas seria sim a força que está dentro dele. Foi preso por heresia em 1592 e queimado vivo no dia 17 de Fevereiro de 1600.
Filósofo holandês de origem judaíca e filho de pais portugueses (emigrados na Holanda) sendo por isso considerado como o maior legado lusófono para a filosofia ocidental. As suas ideias encontram-se resumidas em "Ethica", uma obra extremamente abstracta, que não expressa nenhum amor pela natureza, algo que seria de esperar por alguém que identifica Deus com a Natureza. O ponto de partida de Spinoza não é a natureza ou o cosmos, mas sim uma definição puramente teórica de Deus. Alguns académicos consideram "Ethica" como a mais elaborada e rigorosa exposição do panteísmo em toda a literatura filosófica.
É em "Socinianism truly stated...recommended by a Pantheist to an orthodox friend" (1705) que surge pela primeira vez na história da literatura o termo "panteísta", sendo por isso atribuído a Toland a origem desta palavra. Em "Pantheisticon: sive Formula celebrandae Sodalitatis" (1720) aprofundou as suas ideias panteístas: defendeu a existência de um universo sem limites; menosprezou a imortalidade pessoal afirmando porém que "Nada morre realmente, a morte é uma coisa que traz o nascimento de outra, por uma troca universal reciproca, e tudo contribui necessariamente para a preservação e bem-estar do Todo"; descreveu uma sociedade panteísta secreta cujos membros eram conhecidos por "associados socráticos", porém alguns historiadores questionam se essa sociedade realmente existiu.
Escritor e poeta alemão. Identificou-se com o panteísmo de Spinoza e declarou "aquele que não se ergue o suficiente para ver deus e a natureza como um só não conhece nenhum deles".
naturalista americano e panteísta assumido. Em "Acepting the universe", apresenta a sua crença panteísta: "Quando tentamos agarrar, medir, ou definir o poder ao qual chamamos Deus, apercebemo-nos que estamos sob um outro céu, protector, uma abobada, que tudo abarca.. Deus não é um ser, não é uma entidade, mas sim aquilo que une em si todos os seres e todas as entidades".
Físico norte-americano de origem alemã. Fascinado pelo panteísmo de Spinoza, declarou: "Acredito no Deus de Spinoza que se revela na harmonia de tudo o que existe, não num Deus que se preocupa com os destinos e acções do Homem", "a minha religião é de facto o universo... em outras palavras, a natureza, que é o nosso reflexo do universo". A sua convicção na unidade do espirito e da matéria deu alento à procura de uma força unificadora da natureza, à qual chamou de "teoria dos campos unificados" (tradução livre de "unified field theory"). Vários estudiosos puseram em causa esta teoria, mas descobertas recentes parecem ter renovado o interesse nela.
Escritor de origem britânica, Paul Harrison é também consultor nas áreas de população, ambiente e desenvolvimento. É o autor de vários relatórios para as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde e a Secretária Internacional para o Trabalho entre outras instituições. Escreveu o livro "Elements of pantheism" (editado em 1999) e foi igualmente o responsável pela criação da World Pantheist Movement que visa sobretudo promover o panteísmo cientifíco, uma forma materialista e monista do panteísmo.
Autor de vários artigos, ensaios e livros relacionados com o panteísmo, é juntamente com Derham Giuliani, um dos fundadores da Universal Pantheist Society, uma organização criada para estabelecer uma rede de comunicações para panteístas de todas as formas (dualista, materialista e idealista).
Panteísta assumido desde 2000, Luís Costa é o criador do projecto "O panteísmo em português" assumindo, desta forma, um papel activo na divulgação do panteísmo na lingua de Camões.
O panteísmo é um movimento filosófico-religioso que observa o Universo, na forma de um Todo, como sinónimo do princípio teológico de deus. Como tal, e ao contrário das religiões teístas, não há uma separação entre a matéria que forma o Universo e a força que o faz mover-se. Por outras palavras, o panteísmo rejeita a crença numa entidade superior e externa, ou seja, é o próprio universo que apresenta os atributos de divindade.
Quando observamos o Universo, é fácil sentir nele um tremendo poder, uma beleza única, um profundo mistério, e sentimo-lo porque ele apresenta as mesmas qualidades que, tradicionalmente, são atribuídas às divindades (omnipresença, omnipotência, omniciência). Quando afirmamos que o Universo é divino, fazemo-lo exactamente com a mesma convicção e emoção com que outras pessoas afirmam a sua fé em deus, contudo, e ao contrário delas, não estamos a fazer uma afirmação metafísica. Quando afirmamos que o Universo é divino, isto significa que olhamos para ele com admiração, encanto, amor e respeito.
Não existe qualquer forma de idolatria uma vez que não há nenhum criador. Mesmo supondo que esse criador existisse, seria errado considerar a sua criação como imagem ou ídolo. De qualquer modo, os panteístas crêem que o Universo se criou e organizou a si próprio, e neste caso, a verdadeira idolatria é venerar um criador imaginário em vez da realidade visível que nos rodeia.
O culto pressupõe duas partes: uma que venera e outra que é venerada, porém, para o panteísmo, esta distinção não faz sentido uma vez que a "divindade" se encontra ao nível do indivíduo. Algumas pessoas acreditam que os panteístas prestam culto à Natureza, mas tal não corresponde à realidade. É verdade que consideramos o Universo e a Natureza como sendo divinos, contudo, essa comtemplação não assume uma dimensão de culto ou adoração.
No panteísmo não há dogmas, escrituras sagradas ou hierarquias e como tal, somos lideres do nosso caminho. Cada panteísta tem total liberdade para celebrar a sua crença da forma que achar mais adequada, e apesar das cerimonias e rituais não serem um condição do panteísmo, cada indivíduo é livre de os praticar e idealizar como bem entender. A simples contemplação da beleza do Universo e da Natureza assume por si só uma profunda dimensão de celebração e festividade: desfrutar da beleza de uma flor na Primavera, do sol que bronzea a nossa pele no Verão, das folhas que caem no Outono ou ainda da neve que cobre os campos no Inverno são apenas algumas das formas através das quais podemos experimentar sensações de grande prazer e auto-realização. Recorrer à meditação constítui também uma boa forma de se atingir estados de união espiritual com a Natureza e o Universo. Ao respeitar-se a si próprio, o panteísta respeita o Universo, e ao respeitar o Universo, o panteísta respeita-se a si próprio e ao próximo. Esta é, com certeza, a melhor forma de celebrar o panteísmo.
Não! O teísmo comporta a crença numa entidade que é maior e mais antiga que o Universo. Para o panteísmo, esta distinção não existe. Se usarmos a terminologia teísta, podemos afirmar que deus está no Universo na mesma medida em que o Universo está em deus, o que os torna um só.
Não! À semelhança do ateísmo e do humanismo, o panteísmo rejeita a existência de uma entidade sobrenatural distinta e separada do Universo. No entanto, o ateísmo baseia-se numa negação - deus não existe - e pouco mais apresenta do que isso. Por sua vez, o humanismo tentou estabelecer uma filosofia positiva mas desenvolveu-se demasiado à volta do homem e da sua suposta superioridade. O panteísmo vai mais além, e através de uma atitude de profundo respeito, oferece-nos uma perspectiva mais positiva e espiritual em direcção ao Universo e à Natureza.
A palavra "religião" refere-se à crença e fé num ou mais deuses, ao culto que se presta a essa(s) divindade(s), o que exclui naturalmente o panteísmo deste grupo, contudo importa lembrar que "religião" é também um termo que abraça filosofia, ética e espiritualidade, e neste contexto, o panteísmo assume-se inteiramente como religião. Apesar disso, para algumas pessoas, a palavra "religião" assume uma conotação negativa que é muitas vezes delineada pelo desencanto e pelo desejo de distanciamento do indivíduo às actuais correntes religiosas dominantes, e desta forma, há quem prefira considerar o panteísmo como uma filosofia de vida.
Enquanto que para o panteísmo "deus" é o Universo na mesma medida em que o Universo é "deus", para o panenteísmo, deus contem em si a totalidade do Universo, mas esse não contem em si a totalidade de deus, ou seja, deus é maior que o Universo. Por outro lado, enquanto que o deus panenteísta se aproxima do teísmo na medida em que ele nos é apresentado com personalidade e vontade própria (inclusivamente, ele tem uma preocupação especial com o homem), o deus panteísta é, basicamente, uma analogia usada quando nos referimos aos atributos de divindade do Universo.
Os pagãos acreditam que a divindade se manifesta no Universo e a Natureza, contudo eles são também politeístas, o que os afasta naturalmente do panteísmo. Apesar disso, um número considerável de pagãos poderá ser panteísta no sentido em que o politeísmo é usado como aproximação metafórica à divindade universal.
O panteísmo não é uma afirmação dogmática e nem sequer existe um livro sagrado que diga: um panteísta deve crer em X, Y e Z. Algumas formas de panteísmo incorporam a crença numa alma que subsiste à morte do indivíduo mas a maioria dos panteístas modernos consideram que a mente é um aspecto do corpo e que com a sua morte ela se irá dissolver juntamente com o corpo.
Através do panteísmo, estamos a optar por um caminho que nos conduz intimamente à aceitação da vida tal como ela é de facto. Em vez de observar a Natureza como evidência da glória de um deus criador, orientamo-nos directamente para o seu poder, imensidão e mistério. Ao ultrapassar a ideia de que este mundo é apenas uma passagem, temos como consequência directa uma maior preocupação ecológica, um maior respeito pelas coisas e pelas pessoas que nos rodeim. O planeta Terra é a nossa morada e como tal devemos cuidar dele aqui e agora.
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É muito bonita essa idéia. Engloba uma diversidade onde tudo é sagrado e também o todo. Nosso lar se amplia desde a nossa casa até o Cosmos.
Excelente explicação e definições. Tanto o panteísmo como o panenteísmo me recordam a teoria cabalista do Tsim-tsum; em que o Creador se contrae para gerar o ponto-espaço da creação, o expande e gera vida nele. O espaço carregará as características do seu Creador, mas em certo enfoque sempre será ''menor'' que ele.
O que é o panteísmo?
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