JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Jonas e a Balela por Paulo Blank Especial para o Yom Kipur

Seu Kafka era um vizinho da Praça Onze que lia O Capital com mesmo fervor que dissecava a Bíblia. Comunista e Tcheco desde criancinha deu sorte de chegar ao Brasil antes que os nazistas alcançassem Praga. Na véspera de um destes dias do perdão, se sentou ao meu lado na entrada da nossa vila e apontou o dedo manchado de maços de Continental para a página do santo livro que já vinha aberta.

- Olha aqui ô Paulinho, esta história de que o profeta Jonas estava fugindo da sua missão é enrolação. Olha só o que está escrito - sem pudor, passava a mão espalmada nas folhas finas da Bíblia hebraica, sempre na sua pasta de trabalho- amanhã aqueles rabinos de meia tigela vão dizer que leem esta história para lembrar a compaixão de Deus. Jonas é a revolta dos homens! - ele exclamava depois de tomar fôlego, o dedo em riste, apontando para o céu claro de uma tarde de verão.

O pior é que era verdade. Com a paixão de sempre me mostrou que depois do perdão de Ninvine e das suas quadrilhas que viviam de crimes e falcatruas, o profeta fujão pediu ao criador que acabasse com ele. Fiquei pasmo. Não era o que me ensinavam na escola, mas estava escrito nas letras quadradas diante de mim.

- Ele queria era morrer de tanta revolta com o Supremo Tribunal- é assim que nas rezas os judeus se referem ao julgamento de deus no dia do Iom Kipur- que deixou os habitantes de Ninvine impunes para continuarem a roubalheira até os dias de hoje. É isto que aqueles rabinos deveriam estar ensinando amanhã nas sinagogas, ao invés de enrolarem o povo com este papo furado de perdão garantido.

Dito isto, pegou a pasta de couro, gasta de tanto uso, e seguiu para a sinagoga a tempo de ouvir o Kol Nidrei. Provavelmente para fiscalizar o rabino.

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