No ultimo sábado Gonçalo Tavares cita Yehuda Amihai na sua pagina no Prosa do jornal “O Globo”.
Anos atrás ouvi de alguém que tinha entendido o problema palestino depois de assistir "Nossa Música" do Godard. Segundo concluiu de um diálogo do filme, a razão era a falta de poetas em Israel.
Aqui vão dois poemas de Yehuda Amihai em homenagem ao cineasta e aos festejos, que se aproximam, do ‘Dia de Jerusalém”. Com vocês uma Jerusalém que nunca será convidada para esta festa.
Do livro: Desta vez fazendo barulho.
Pela Transdução: Paulo Blank
Jerusholaim. Cirurgia deixada aberta.
Os cirurgiães foram cochilar em céus distantes
mas seus mortos se ajeitam
lentamente, bem devagar, em circulo, ao redor,
qual pétalas silentes.
Deus meu,
estame meu,
meu pistilo.
Tentativas Suicidas de Jerusalém
Aqui as lágrimas não suavizavam
os olhos. Somente dão brilho,
cimentam durezas das faces, qual pedra.
Tentativas suicidas de Jerusalém
Ela tentou uma vez mais em Nove de Av,
tentou com fogo e com vermelho
com a lenta dissolução em pó branco,
com ventos. Jamais vai conseguir;
mas há de tentar outra mais, e mais
nota; Nove de Av, data da destruição de Jerusalém.
Transduções: No campo da Física, a transdução é a transferência de um tipo de energia, noutro. Traduzir mantendo a potencia da escrita originaria é um desafio prazeroso. A escrita sem vogais, característica do hebraico, abre o texto para múltiplos sentidos. Muitas vezes escolho preservar as várias possibilidades do português e com elas a força da multiplicidade do verbo. Por isto opções como “Jerusolaim” ou certas repetições . Tentativa de fundir as energias das duas línguas.