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TENDENDO PONTES

Enquanto uns plantam precipícios, nós tendemos pontes.

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Última atividade: 20 Out, 2013

Segredos de alcova


Era sábado. Uma noite excepcionalmente calorenta que não me ajudava a conciliar o sono, ainda que finalmente consegui convencê-la de dar um jeitinho e assim finalmente pude exercer o direito adquirido de dormir as merecidas oito horas diárias que tenho creditadas no caderninho do tempo.

Como vem, nada digno de ser contado, não fosse pelo fato de que fui vítima de um estranho e belíssimo sonho erótico, e como de egoísta não tenho nem um pingo, conto com prazer em poucas e simples palavras o roteiro do sonho, para que captem o sentido que se esconde sob a superfície das letras e das frases.

Estava na minha cama, sozinho como de hábito nos últimos tempos. Melhor dizendo, quase sozinho, porque de repente o calor olhou-me de soslaio e com uma só piscada convidou-me a tirar a roupa, o que aceitei sem vacilar. Como bom escravo da minha solidão escandinava, optei por ligar a TV para que as vozes e figuras que ela fabrica me permitissem fazer de conta que estava acompanhado.

Fui pulando automaticamente de canal em canal sem olhar detidamente nem escutar atentamente. O calor me umedecia de ponta a ponta y me grudava ao lençol como se ele fosse a minha própria pele.

A escuridão do quarto era estuprada pelo reflexo da luz que o aparelho vomitava, e eu, sem querer nem pedir, acabei sintonizando um canal que transmitia cenas bastante... como dizer... inauditas e interessantíssimas.

Como que não quer nada aumentei o volume para tratar de entender as palavras que pronunciavam enquanto faziam o que faziam.

Bom, o que mais posso contar? Eram dois homens, mas pouco a pouco as imagens que mostravam uns gestos que diziam tudo sem necessidade de palavras iam apoderando-se de mim, e as palavras que finalmente diziam acariciavam os meus ouvidos e faziam que suasse de emoção. Para que saibam o que aconteceu e sintam um pouco de inveja, no momento em que os dois se abraçaram como se não quisessem separar-se jamais, eu alcancei o éxtase mais intenso e interminável de toda a minha vida.

Agora que escrevo e relembro o acontecido, sinto-me novamente emocionado. Pena que tudo não passou de ser um sonho erótico, ainda que de fato se tratasse de uma cerimônia. Sim, para que conheçam até o último detalhe, tratava-se do encontro no qual o primeiro ministro de Israel e o líder do povo palestino assinavam a paz.

Como disse antes, um sonho verdadeiramente erótico. Foi a primeira vez que dois homens conseguiram arrastar-me até as portas do Nirvana.

Quando acordei, o primeiro que fiz foi ler as manchetes dos jornais, as quais, sem sequer levar em consideração o meu sonho, avisavam em letras garrafais que enquanto eu gozava um suicida palestino explodiu-se numa festinha infantil em Tel-Aviv, e que o exército de Bibi Netaniahu e Barak bombardeou duas escolas primárias em Gaza - ou vice-versa - enquanto eu acordava do sonho.

Bom, contado está. Quem não acredite que foi um sonho verdadeiramente erótico, não sabe o que significa a Paz para os povos de Israel e Palestina.

Aqui e agora na Suécia o relógio avisa é chegada a hora de ir dormir. Desejo uma boa noite a todos vocês, e espero que sonhem sonhos que amanhã ao depertar os jornais e todos os canais avisem aos quatro ventos que são uma doce e tangível realidade.

Bruno Kampel




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Comentário de Jayme Fucs Bar em 6 agosto 2010 às 17:50
Shalom Bruno,
Parabens por essa brilhante iniciativa!
Necessitamos de muitas pontes com essa!
abraco
Jayme
Comentário de Elias Salgado em 5 agosto 2010 às 19:54
Caro Bruno, belíssimo poema, excelente iniciativa de criar um grupo com tão nobre e coerente proposta, como soam ser as q. carregam algum tipo de verdade, como a sua.
A idéia de capital, na minha opinião não é a central, a prioritária, mas a de q. Jerusalém é um pouco de todos nós e de q. há emtodosnós um pouco dela é sublime. Eleva e recoloca Jerusalém na dimensão q. os sábios do Talmud sempre a viram - a de Yerushalaim shel Mala - de Jerusalém de cima, das altura, superior, pairando acima de tudo o q. não é relevante. É tão instigante a idéia de Jerusalém tão pertinente e pertencente a todos e ao mesmo tempo tão independente, tão livre, tão elevada.
Abs.
elias
Comentário de Bruno Kampel em 4 agosto 2010 às 10:34
JERUSALÉM, A PLURAL



(Transformar Jerusalém em capital de dois Estados soberanos não significa dividi-la, como sugerem os partidários do tudo ou nada, mas muito pelo contrário, multiplicá-la).


Não há pedra em Jerusalém que não carregue na memória epopéias heróicas, nem judeu ou cristão ou muçulmano que não transporte no seu coração o palpitar da cidade.

Não há muro em Jerusalém que não mostre no seu musgoso olhar estórias de grandes e pequenas esperanças, de enormes ou ínfimas derrotas.

Não há deus ou diabo que não tenha passeado com cobiça o seu olhar sobre a epiderme das suas ruas e ladeiras, dos seus olivais e montanhas.

Não há céu que não inveje o firmamento sob o qual Jerusalém respira e vibra, nem terra que não sonhe ser o chão do seu futuro.

Não há judeu ou cristão ou muçulmano ou ser humano que não leve tatuado nos seus genes um amanhecer ou pôr-do-sol jerosolimitano.

Não há prece que não espere ansiosamente o momento de acariciar com o seu eco os restos imortais do Grande Templo ou as pedras do Santo Sepulcro ou a dourada cúpula de al-Aksa.

Não há pombos nem passarinhos que não queiram aninhar nas cúpulas das suas igrejas, nos minaretes das suas mesquitas, nos telhados das suas sinagogas.

Não há guerra que a subjugue nem ocupante que a divida, nem há Liberdade sem Justiça, nem há Jerusalém sem Liberdade.

Jerusalém não é totalmente judia, mas é essencialmente judia. Jerusalém não é completamente muçulmana, mas também o é. Jerusalém não é intrinsecamente cristã, mas é plenamente cristã.

Jerusalém é síntese. Jerusalém é soma, fusão, amálgama, resumo, encontro.

Bruno Kampel
 

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