O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
Miguel Ângelo Monteiro da Costa ainda não recebeu nenhum presente
O LADO NEGRO DAS CRUZES
No ano de 1504, sexta-feira, no dia 20 do mês de Dezembro um sapateiro de nome João Pires viu uma cruz, no chão, num Barreiro, no arrabalde de fim de vila, junto à ermida do Salvador. Esta visão do Sapateiro João Pires arrastou multidões a ver para crer, uma cruz de terra
Esta lenda é-nos contada desde os primórdios do século XVI até aos nossos das, dando origem às Festas das Cruzes, celebradas no dia 3 de Maio.
Mas o meu espírito racional e não muito crente ( pertenço ao grupo de Tomé: ver para crer ), me questionava: porquê este milagre da Cruz, aqui em Barcelos, no limiar do século XVI?
Ora, dúvida levou-me a olhar para os factos históricos dos finais do século XV e princípios do Século XVI, em Portugal e outros países, ao tempo, pertencentes à Península Ibérica Como Castela e Aragão.
Tudo começa com uma data histórica e marcante para a Península Ibérica: 31 de Março de 1492: a expulsão dos judeus e mouros das terras de Castela e Aragão pelos Reis Católicos Fernando e Isabel.
Grande parte desses judeus – os mais ricos – refugiaram-se em Portugal a troco do pagamento de avultadas quantias exigidas pelo Rei D. João II, espalhando-se por toda a parte de Portugal, incluindo Barcelos, dado a existência de uma grande e importante judiaria, principalmente judeus vindos do Pais Basco e Castela.
Claro que a população judaica teve um aumento exponencial criando conflitos com a população cristã, não só porque era acusada pela morte de Cristo e práticas de higiene e religiosas contrárias às praticadas pelos seguidores de cristãos, como eram financeiramente poderosos e muito cultos – os médicos eram quase todos judeus -.
Este conflito acentuou-se com a morte de D. João II e a subida ao trono de D. Manuel. Segundo rezam as crónicas, no princípio do seu reinado os judeus ainda eram tolerados, dado que a exemplo dos reinados anteriores foram os judeus que financiaram os descobrimentos e, não menos despiciendo, colaboraram através de matemáticos, astrólogos e navegadores. No entanto o Rei D. Manuel com a ideia da unificação Ibérica, quis casar com a filha mais velha dos Reis Católicos, Isabel viúva do filho de D. João II, e não com a terceira filha Maria, como lhe tinham oferecido.
Acontece, que uma das muitas exigências que os Reis Católicos para que o enlace se realizasse era que os Judeus, principalmente vindos de Castela e Aragão, após o decreto de expulsão, fossem expulsos de Portugal.
Assim, o Rei de Portugal teve um dilema: precisava dos judeus por causa dos impostos e contribuições para pagar as despesas do Estado, mas… queria casar com a possível herdeira ao trono de Aragão e Castela. Daí resolve a questão: ordena a conversão força dos judeus dando origem aos chamados Cristãos Novos. Mais: como dizia Oliveira Martins ‘ tomou para si o papel de Herodes, e como sátrapa mandou arrancar aos pais e baptizar todos filhos menores de 14 anos, a qual obra tão-somente foi de grão terror misturado com muitas lágrimas, dor e tristeza dos judeus, mas ainda de muito espanto e admiração dos cristãos.
Como era fácil prever grande parte dos Cristãos Novos não perderam as sua práticas judaicas, misturando-se com os Cristãos Velhos, dado que não havendo judeus também as judiarias deixaram de ter restrições como serem fechadas ao toque das trindades, como acontecia na de Barcelos, originando críticas religiosos de parte a parte: os Cristãos Velhos denunciavam os Cristãos Novos das sua práticas judaicas e, por sua vez, os Cristãos Novos atacam os Cristãos Velhos por práticas de idolatria como o culto a imagens e à Cruz.
Portanto para os Cristãos Velhos, principalmente os Frades Dominicanos ‘militavam’ na denuncia da heresia dos Cristãos Novos, acirrando o povo inculto e fanático contra aqueles que mataram Cristo: os Judeus. Assim, era necessário dar sinais ao povo da divindade da Cruz, começando a aparecer cruzes por todo o lado, onde existiam grandes comunidades judaicas em Portugal, Castela e Aragão, dando-lhes um sentido de milagre: aí os filhos de São Domingos, como dizia Herculano, apontavam o dedo aos judeus deicidas: estão a ver como a Cruz é Divina e os malandros dos judeus a mangarem connosco pela sua adoração? Há que os matar. A partir do ano 1500 houve muitas perseguições e mortes aos judeus em muitos locais do País acabando com o martírio de mais de 3.000 judeus no dia 19 de Abril de 1506 em Lisboa.
É neste turbilhão de mortes e perseguições que acontece o dito milagre das cruzes. Poderá ser coincidência ou não: mas a partir de 1504, a judiaria de Barcelos praticamente desapareceu e com a instauração da inquisição em Portugal, já no reinado de D. João III, no ano de 1536 até aos princípios do século XVII, centenas de Cristãos Novos de Barcelos, foram julgados e alguns pagaram coma vida na fogueira, porque e eram acusados de simples práticas judaicas.
Portanto deixem-me duvidar deste milagre pensando nos judeus nossos antepassados que sofreram por seguirem a Tora e o Talmude, pedindo que entre o fogo do rio e a Procissão da Invenção da Santa Cruz, haja um pequeno espaço para a sua memória, pois como dizia Bertrand Russel: ´W. James costuma pregar a força de vontade de crer. De minha parte, eu desejaria pregar a força de vontade de duvidar. O que é preferível não é o desejo de acreditar, mas o desejo de descobrir, que é exactamente o oposto.
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