A visita do presidente do Irã exige reflexão moral
Adriana Dias
Se você pudesse decidir os laços comerciais do Brasil com a Alemanha de Hitler, você teria aceitado de braços cruzados? Seis milhões de judeus foram exterminados pelo regime hitlerista. Você aceitaria laços comerciais com a Alemanha nazista, para comprar pólvora, produzida pelos judeus escravizados nos campos de concentração, ou para vender produtos brasileiros a este regime, porque seu país precisa de pólvora ou de superávit comercial?
Milhares de gays foram perseguidos e mortos pelos nazistas. Cerca de 50 mil gays foram classificados como "criminosos" e "degenerados" pelo Terceiro Reich, e de 10 mil a 15 mil deles foram enviados a campos de concentração. Você aceitaria laços comerciais com a Alemanha nazista, se soubesse disto?
Você acha que Hitler abriria mão do que desejava (exterminar judeus, homossexuais, Testemunhas de Jeová, ciganos, dominar o mundo) se alguém tentasse convencê-lo?
Ditadores não são convencidos. É preciso que a liberdade e a democracia denuncie todas as ditaduras.
Que preço moral estamos dispostos a pagar pelo laço comercial com o Irã? Podemos, como seres humanos aceitar a repressão e o fuzilamento de mulheres, gays, baha'is, como problemas internos iranianos? Seriam os campos de concentração nazista problemas internos da Alemanha? Podemos apertar a mão do presidente do Irã sem banharmos estas mesmas mãos no sangue das crianças executadas pelo regime totalitário iraniano?
Receber Ahmadinejad não é uma decisão apenas de "caráter pragmático": é uma decisão que implica, sim, em reflexão moral: fornecer alimentos, máquinas, ou o que quer que seja, implica na espécie de aliança que está se construindo.
O silêncio do mundo permitiu milhares de mortos nos regimes nazi-facista. Resta a pergunta: vamos nos calar novamente?
Não há desculpas: Silêncio é aceitação. O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons, afirmou Martin Luther King.
Adriana Dias é antropóloga e doutoranda da Unicamp.
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