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Munique cria memorial virtual pelas vítimas do nazismo -Autora: Renate Heilmeier

Munique cria memorial virtual pelas vítimas do nazismo

Michaela Melian reuniu testemunhos de vítimas do nazismo, disponibilizando-os pela internet em forma de arquivos sonoros. Projeto quer construir espaços voltados para a memória, para além dos monumentos históricos.

Munique desempenhou um papel central durante o nazismo. Por isso, é hoje importante perceber de que forma, onde e como são lembradas, na cidade, as vítimas perseguidas e excluídas pelo regime, aquelas que não podiam mais participar da vida pública e as que foram assassinadas naquele período. Agora, a fim de lembrar essas pessoas, Munique criou um Memorial Virtual para as Vítimas do Regime Nazista: não se trata de uma edificação, mas sim de uma obra sonora.

A artista, música e autora de audiolivros Michaela Melian registrou 300 depoimentos das vítimas do nazismo em áudios, disponibilizados na internet, como parte de um projeto que estabelece a ligação entre lugares, como nomes de rua, e pessoas. São lembranças para serem ouvidas, que devem levar à reflexão e certamente ao respeito pelas vítimas do regime nazista. Um documento na luta contra o esquecimento.

Regravação dos testemunhos

"Otto teve sorte, pois ele, na condição de prisioneiro, tinha que ir comprar leite e pão para o campo de concentração. Foi assim que nos conhecemos, mas tudo ainda era muito perigoso. Não podíamos falar muito, só através de olhares. Quando a guerra acabar, se eu sobreviver, venho buscar você, ele dizia", lembra uma sobrevivente.

"Alguém nos chamou às sete horas da manhã depois da Noite dos Cristais e disse: todos os homens vão ser detidos hoje. Aí mamãe falou: vocês hoje não vão para a escola. Fomos então para a rua Weinstrasse 11, para o escritório de advocacia do meu pai. Naquela época ainda era possível estacionar ali", recorda-se outra vítima.

Testemunhos atuais e atemporais

A artista Michaela Melian mandou regravar os registros encontrados em arquivos e entrevistas, de forma que não se ouve, nesse Memorial Sonoro, nenhuma gravação antiga desgastada pelo tempo, mas depoimentos cujo som tem perfeita qualidade.

"Eu quis fazer com que essas vozes fossem associadas a pessoas jovens. Todas essas vítimas tinham entre 15 e 30 anos quando saíram dos campos de concentração ou quando voltaram da Rússia. Eles tinham 25 ou 28 anos e hoje, se ainda vivos, têm entre 80 e 90 anos. Acho muito importante que esses testemunhos soem atuais, porque as histórias que considero importantes são, na maioria das vezes, cotidianas. E os jovens não eram tão diferentes dos de hoje. É possível compreender tudo por que passaram, de forma que os testemunhos ganham, assim, um caráter atual e atemporal", explica Melian.

Lembranças fragmentadas formam um todo

É possível criar uma proximidade com aquilo que as pessoas vivenciaram na época e com os lugares dos quais elas se recordam. Embora fragmentadas, essas lembranças, juntas, compõem uma imagem daquele momento histórico. Michaela Melian compôs ela própria a música para sua obra, usando samples de músicos e compositores judeus, que colidiam com a ideologia nazista.

"Tento resgatar as raízes de compositores como Karl Amadeus Hartmann, que foi proibido de exercer a profissão, ou Coco Schumann, que não podia se apresentar. E Mendelssohn-Bartholdy só podia ser interpretado por músicos judeus para um público judeu. São informações que apreendi nas entrelinhas", conta a artista.

"Memory Loops"

No site do memorial virtual, há 300 círculos azuis marcados em um mapa da cidade de Munique, nos quais é possível clicar. Assim é possível ficar sabendo o que acontecia em determinadas regiões da cidade, entender quais os locais prediletos dos nazistas e de onde eram executados os planos do regime, como postos policiais ou departamentos voltados para "tornar ariana" a sociedade.

A emissora Bayerische Rundfunk, que apoiou a produção do projeto, irá transmitir esses Memory Loops, como ele é chamado, como peça radiofônica. Em alguns museus do país, é também possível pegar aparelhos de mp3 emprestados para fazer um passeio ouvindo as lembranças colhidas pela artista. Mas, acima de tudo, Melian cuidou de espalhar por toda a cidade as memórias que reuniu.

"Essa era também a ideia que se escondia por trás do concurso que ganhei: a proposta de procurar uma forma de lembrança que fosse além dos monumentos históricos. Como não havia a menção de um lugar específico no edital, foi fácil optar por esse tipo de mídia, hoje predominante no lazer e na vida profissional das novas gerações, como a internet e o celular. As pessoas hoje gastam mais tempo de lazer na internet do que em qualquer outro lugar de interação social", analisa Melian.

A proposta da artista de redefinir de forma tão consequente "novas formas da lembrança e da memória" provocou, de início, um pequeno escândalo. Embora logo depois tenha ficado claro que, quando faltam lugares reais dedicados à memória, é preciso encontrar outros para tal, sejam no rádio, na internet ou mesmo no telefone.

Autora: Renate Heilmeier (sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer

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