JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Você Tem Medo de Viver?


Últimos desejos

Uma mulher no Brooklyn decidiu preparar o testamento e fazer seus últimos planos. Ela contou ao rabino que tinha dois últimos pedidos a fazer.Primeiro, ela queria ser cremada, e segundo, queria que suas cinzas fossem espalhadas por todo o shopping center.

“Por que o shopping center?” perguntou o rabino.

“Assim posso ter certeza de que minhas filhas irão me visitar duas vezes por semana,” respondeu a mãe.

Duas maneiras de viver

“Ataque a vida. Ela vai matar você mesmo.”
-Steven Coallier

“Há somente duas maneiras de viver sua vida. Uma é como se nada fosse um milagre. A outra é como se tudo fosse um milagre.”
-Albert Einstein

Uma Expressão Curiosa

Um versículo interessante na porção da Torá, Chaye Sarah, diz: “Avraham estava velho, entrado em dias, e D'us tinha abençoado Avraham com tudo.”

Qual o significado da expressão que Avraham era “entrado em dias”? A maioria dos comentaristas explica simplesmente que Avraham era avançado em anos; tinha ficado muito velho.

Porém, se isso é acurado, o versículo é redundante. Uma vez que a Torá declarou que “Avraham era velho”, não há necessidade de dizer que era avançado em anos. Isso seria inconsistente com a meticulosidade de todo versículo, palavra e até letra da Bíblia.

Quantas Vezes Você Fica Velho?

Outra dificuldade surge quando se estuda cuidadosamente a Torá. Diversos capítulos antes, a Torá declara que “Avraham e Sarah eram velho, eles entraram em dias; o costume das mulheres tinha cessado em Sarah.”

Ora, vamos lembrar que este versículo desccreve Avraham e Sarah com as idades de 99 e 89, respectivamente, um ano antes de seu filho Yitschac nascer. Sua descrição como “velho” parece correta.

Nosso versículo porém – “Avraham estava velho, entrado em dias” – descreve um Avraham vivendo 41 anos mais tarde, após a morte da sua esposa Sara com 127 anos, e pouco antes do casamento de seu filho Yitschac, que se casou aos 40 anos. Por que a Torá iria de repente declarar agora que “Avraham estava velho” novamente, 41 anos depois?

E no versículo anterior também, a Torá usa essa expressão aparentemente redundante: “Avraham e Sarah estavam velhos, entrados em dias.” Uma vez que você declarou que Avraham e Sarah estavam velhos, já declarou que eles tinham avançado em anos.

Permitindo que a Vida Toque Você

A expressão hebraica usada para “entrados em dias” é “baeim bayamim”. Uma tradução literal seria “Eles entraram em dias.”

Talvez, então, devamos interpretar as palavras “eles entraram em dias” tão simplesmente quanto possível: que Avraham e Sarah entraram em seus dias, permitindo que os dias e suas experiências os envolvessem completamente e tocassem a textura de seu próprio ser.

Muitos de nós estão assustados demais para entrar dentro de nossas vidas e vivê-las plenamente, com total presença de espírito, coração e corpo, com paixão e entusiasmo totais. Não confiamos na vida o suficiente para deixar que ela nos possua. A vida encerra sofrimento demais, muitos desapontamentos, tanta vergonha, raiva e culpa; em vez disso preferimos deixar que nossos dias passem enquanto “marcamos o tempo: e mantemos uma certa distância, a fim de permanecermos seguros. Observamos nossos dias se movendo, mas somos tímidos demais para nos tornar um só com eles, para sermos plenamente envolvidos por eles.

Porém Avraham e Sarah, diz a Torá, personificaram um modelo diferente: “Eles entraram dentro dos dias;” eles entraram totalmente em seus dias. Eles se permitiram ser envolvidos pela vida. Todos os seus dias foram explorados, utilizados e vividos ao máximo.

Avraham e Sarah tinham passado juntos pela vida inteira! Eles desfrutaram imensas bênçãos e vitórias, bem como profundo sofrimento e desapontamentos, incluindo o fato de que Sarah era (na época) estéril. Porém no decorrer de tudo – o positivo bem como o desafiante, o alegre e o doloroso – eles se permitiram vivenciar o pulso da vida em sua totalidade. Estavam presentes o tempo todo, e não se esconderam no casulo do afastamento seguro. Eles “contemplaram cada dia de sua existência com um olhar firme.

Sim, é mais seguro entrar na sua vida pela metade, criar uma fronteira entre você mesmo e suas experiências. Sem arrependimento, sem sofrimento, sem lágrimas. Mas isso pode vir ao custo de VIVER, de uma vida repleta de exuberância, risos, paixão, e integridade. Avraham e Sarah, num certo sentido, continuaram crianças. Você já observou crianças? Elas não gostam de fragmentação. Entram em alguma coisa por completo – com todo o seu senso de curiosidade, confiança, presença de espírito e vulnerabilidade emocional.

Já foi dito que há três tipos de pessoas: aquelas que fazem as coisas acontecer; aquelas que observam as coisas acontecer, e aquelas para quem você tem de contar que algo aconteceu.

Quando a Vida Se Torna Difícil

Agora entendemos por que, 41 anos depois, a Torá acha necessário repetir exatamente a mesma descrição sobre o primeiro judeu: “Avraham era velho, entrado em dias.”

Sem dúvida durante este período, Avraham passou pelos momentos mais profundos e turbulentos de sua vida inteira. Após esperar por décadas, ele finalmente foi abençoado com um filho, Yitschac, que levaria adiante a revolução monoteísta que ele tinha começado. Durante esse tempo, Avraham viu-se a ponto de abater seu filho.

Finalmente, durante esses anos, a pessoa que estava lá com ele firme e forte, a parceira de sua vida, faleceu. Sarah tinha caminhado com Avraham por quase um século, suas vidas fundidas numa unidade perfeita. A morte dela deve ter sido uma perda inimaginável para Avraham. Alguém poderia pensar que a essa altura Avraham teria desenvolvido alguns meios de se proteger contra qualquer sofrimento e mágoa.

Na verdade, com frequência observamos como muitas pessoas após anos levando a vida com todas suas pressões e conflitos, desenvolvem uma certa indiferença às perdas e bênçãos de sua existência. Elas simplesmente passaram por coisas demais para se submeterem ao lado vulnerável da vida.

Assim, a Torá nos diz que a coragem de Avraham ficou com ele até o fim.

“Avraham estava velho, entrado em dias.” Mesmo como viúvo, Avraham não se afastou da vida. Ele respirava nela, com toda sua majestade, drama e sofrimento. Nas linhas de seu rosto e nas fissuras de sua alma, ele levava um lembrete de todo encontro, de todo relacionamento, de toda experiência. É isso que chamamos de realmente viver: adquirir a coragem para tornar-se um com a vida, senti-la, amá-la, e possuí-la.

Avraham acreditava que o cinismo e o afastamento são o retiro fácil de uma mente pequena. Portanto, até seu último suspiro, o fundador da fé judaica acordava toda manhã dizendo: “Viverei minha vida hoje ao máximo; meu coração e minha alma seguirão totalmente com a corrida a que chamamos vida.”

Quando você vive dessa maneira, não precisa espalhar suas cinzas num shopping center para ser lembrado. Como disse Abraham Lincoln: “No fim, não são os anos em sua vida que contam. É a vida em seus anos.”

Por Yosef Y. Jacobson
Rabino Yosef Y. Jacobson é editor de Algemeiner.com, um site de notícias e comentários judaicos em inglês e yidish. Rabino Jacobson  também faz palestras sobre ensinamentos chassídicos, sendo muito popular e bastante procurado. É autor da série de fitas “Um Conto Sobre Duas Almas”.

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