JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Elie Wiesel*

      Ausência de linguagem, a intolerância não é apenas o instrumento fácil do inimigo; ela é o inimigo. Ela nega toda a riqueza veiculada pela linguagem.

      Quando a linguagem fracassa, é a violência que a substitui. A violência é a linguagem daquele que não se exprime mais pela palavra.

      A violência é também a linguagem da intolerância, que gera o ódio. O ódio é irracional, impulsivo, implacável; suas forças sinistras impulsionam o que há de destruidor no homem. Seu ritmo é rápido, seu objetivo ameaçador, seu movimento inexorável.

      Existe alguma coisa de positivo, de transcendente, de nobre, no ódio? O ódio é capaz de produzir outra coisa que não o ódio? Outras perguntas se impõem: deve-se demonstrar tolerância frente à intolerância? Deve-se empregar a força bruta contra a dos fascistas? É preciso odiar o ódio para destruí-lo?

      A intolerância e o fascismo desembocam ambos, inevitavelmente, na humilhãção do outro, portanto, na negação do homem e de suas possibilidades de realização.

      Flagelo milenar de origens obscuras e insondáveis, o ódio ignora fronteiras e muralhas, etnias e religiões, sistemas políticos e classes sociais: obra de humanos, nem Deus pode detê-lo. Nenhum povo pode se considerar imune a seu veneno, e nenhuma comunidade, a salvo de seus ataques. Ofuscado e ofuscante, o ódio é o sol negro que, sob um céu de cinzas, fere e mata aqueles que esquecem a grandeza da promessa de que todo o ser humano é portador.

      Odiar é negar a humanidade do outro, é diminuí-lo. É limitar nossos horizontes ao reduzir os do outro. É ver no outro e, portanto, em si mesmo, não um motivo de orgulho, mas um objeto de desprezo e de terror.

      Odiar é escolher a facilidade simolista e redutora do desdém como fonte de satisfação. É cavar um fosso onde cairão sufocados o agente do ódio e sua vítima. Odiar é atear o fogo da guerra em que as crianças se tornam órfãs, e os velhos, loucos de dor e de pena.

      Em religião, o ódio esconde a face de Deus. Em política, o ódio destrói a liberdade dos homens. No campo das ciências, o ódio está a serviço da morte. Em literatura, ele deforma a verdade, dasnaturaliza o sentido da história e encobre a própria beleza sob uma grossa camada de sangue e de feiúra. Insidioso, dissimulado, o ódio insinua-se na linguagem, como no olhar, para perturbar as relações entre um homem e o outro, uma comunidade e a outra, um povo e o outro.

      Pertenço a uma geração traumatizada, que sofreu na pele e na consciência uma glorificação do ódio; conseguiu vencer o nazismo e o fascismo, mas não a intolerância e o fanatismo que os caracterizam.

      Como combater a intplerância? Com o fascismo, sabemos como agir. O fascismo é um sistema, uma estrutura, uma vontade de dominação, uma base política que almeja conquistar o poder.O fascismo é simples: com ele não transigimos. Nunca. Nós o denuciamos, desmascaramos, rejeitamos, repudiamos, nós o excluímos da sociedade humana.

      A intolerância é mais complicada, porque é mais sutil. Onde reconhecê-la? Como discerni-la? São muitas as respostas, sem dúvida; mas conheço apena uma: de uma idéia ou de um movimento que inspirem o ódio, podemos dizer que são intolerantes. Digamos que a intolerância está situada no início do ódio. Se não a detivermos, será tarde demais.

      Infelizmente, quando o ódio entra em ação, não é mais possível erradicá-lo. É que ele envolve até mesmo os que se lhe opõem, ainda que se trate, então, de um outro gênero de ódio. Para vencê-lo, só existe um meio: Impedi-lo de nascer.

      O ódio é como a gyerra: uma vez começada, já é tarde demais. Ela libera o Anjo da morte que tantos estragos causa.

      É preciso, portanto, combatê-lo antes, privando-o da falsa glória que lhe confere sua aberrante legitimidade.

*Prefácio do livro 'A Intolerância' da Academia Universal das Culturas

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Então se o ódio é irreversivel e, portanto, que depois que nasce não ha como combate-lo.

O problema é que até os que dizem não odiar ou que não querem odiar não veem tambem outro saida para vencer o ódio. Como esta escrito acima o ódio se combate com ódio. Dai que eu sempre digo ess ódio na questão do oriente médio é secular e mesmo que exitam pessoas de boa vontade e de paz, existem outras tantas completamente opostas.

Na questão de Israel onde a religião comandada por uma minoria tem força explendorosa sendo que esta não esconde somente a face de Deus mas usa-o de maneira perversa e sem escrupulos. O homem brinca com Deus e em seu nome comete atos inpensáveis. Hoje temos os homens bombas, etc etc A intolerancia religiosa é a mais complicada pois a politca pode ser revertida em algum momento ou instante mas a religiosa não pois esta trabalha a mente das pessoas, manipulando-as de maneira profissional e com competencia de fazer inveja.

Dai eu concordar de que somente uma movimento de judeus de todo o mundo pode fazer alguma coisa que de resultados objetivos contra a intolerancia e principalmente vai colaborar de fato quanto ao agragamento objetivo e rel dos judeus. A  diáspora ainda existe mesmo com a existencia do estado de Israel, principalmente a diáspora no sentido espiritual e esta é a mais triste a mais perigosa pois pode levar ao esquecimento as nossas tradições, nossa cultura e identidade tendo em vista que a  Ultra Ortodoxia impede avanços de outros judeus com outros pensamentos e visões de exercerem seus direitos religiosos, politicos e culturais no sentido literal da palavra.

shalom

Parabéns pelo texto tão lúcido, explicativo e muito inteligente além de dizer a verdade de maneira espetacular.

 

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