Israel discute separação de homens e mulheres em ônibus públicos
Ministro dos Transportes defende segregação lançada por ultraortodoxos
Guila Flint
Especial para O GLOBO
TEL AVIV. O ministro israelense dos Transportes, Israel Katz, defendeu perante a Suprema Corte de Justiça a existência de ônibus, principalmente destinados ao setor ultraortodoxo da população, nos quais é praticada a separação entre homens e mulheres.
Essas linhas de ônibus, onde os homens sentam na frente e as mulheres na parte traseira, existem em todas as grandes concentrações de ultraortodoxos, principalmente nas cidades de Jerusalém, Bnei Brak e Beit Shemesh e nos assentamentos de Emanuel e Kiriat Sefer, na Cisjordânia.
A prática foi iniciativa de rabinos ultraortodoxos que instituíram linhas particulares onde a separação era mantida para "preservar a decência", mas acabou sendo adotada pelas grandes empresas públicas de transporte.
Em resposta a um recurso apresentado à Corte pelo Centro de Pluralismo Judaico, que protestou contra a segregação e humilhação das mulheres em 56 linhas de ônibus, o ministro declarou que a prática deve continuar e defendeu a colocação de placas nos Ônibus "explicando às pessoas onde devem sentar, porém destacando que isso não é obrigatório".
A porta-voz do Ministério dos Transportes, Ora Salomon, disse ao GLOBO que o governo "precisa levar em consideração as preferências dessa população (a ultraortodoxa), deixando claro que se trata de uma separação voluntária".
De acordo com a advogada do Centro de Pluralismo Judaico Einat Horowitz, o apoio do governo à separação nos ônibus "é mais um sinal da deterioração da sociedade israelense na direção fundamentalista".
— Recebemos muitas reclamações de mulheres que foram agredidas e humilhadas pelos outros passageiros quando se negaram a sentar na parte traseira do ônibus — disse a advogada ao GLOBO.
Embora seja ortodoxa, a escritora Nomi Regan se negou a sentar-se na parte traseira de um ônibus e relatou agressões por parte dos outros passageiros. De acordo com Einat, há também uma pressão de caráter econômico para que as mulheres se submetam à separação nos ônibus.
— Esses ônibus são muito mais baratos — disse Horowitz, lembrando que a passagem de Jerusalém a Haifa, que nos Ônibus normais custa 44 shekels (o equivalente a cerca de R$ 22), nos ônibus especiais custa apenas 27 shekels (R$ 13,5).
Eti Sorojun é uma mulher secular que mora na cidade de Bat Yam, onde os ultraortodoxos são minoria.
Eti enviou uma queixa a uma das maiores empresas de transporte público de Israel, a Dan, depois que foi agredida por um passageiro ultraortodoxo quando tentou sentar ao lado dele. A Suprema Corte deverá anunciar sua decisão sobre essa questão dentro dos próximos meses.
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