RESUMO: O objetivo deste artigo é compreender um fenômeno sobre o qual não há pesquisas no País: a incorporação de símbolos e rituais judeus em diversas correntes evangélicas brasileiras. Nesse afã, fez-se uma breve análise do mercado brasileiro de bens religiosos, colocando a ênfase nas igrejas evangélicas, principalmente, nas igrejas neopentecostais. Foram analisadas as diferentes visões escatológicas cristãs destacando o componente milenarista característico das igrejas evangélicas. A metodologia utilizada foi a análise de material veiculado por distintas igrejas na imprensa e na internet. Como hipóteses explicativas do fenômeno estudado destacam-se a incorporação do dispensacionalismo pelas igrejas evangélicas como um todo, o processo de globalização do religioso e alguns estereótipos existentes entre os membros das igrejas em questão sobre a comunidade judaica brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: judaísmo – neopentecostalismo – globalização – judeofilia - sincretismo
THE UNUSUAL INCORPORATION OF JUDAISM IN BRAZILIAN CHRISTIAN STRANDS: SOME REFLECTIONS
ABSTRACT: The aim of this paper is to understand a Brazilian widespread phenomenon that has not been researched at all: the incorporation of Jewish symbols and rituals by different Brazilian evangelic tends, especially by Pentecostal churches. Firstly, the article deals, although briefly, with the so called “Brazilian religious market”, pointing out the situation of evangelic churches, especially, of Pentecostal churches. I have also analyzed the different Christian eschatological visions emphasizing the messianic component that distinguish the eschatology of evangelic trends. The methodology used was based on the analysis of books, pamphlets and other material divulged by these churches in the Internet. As explanatory hypotheses of the studied phenomena, I point out the adoption of dispensacionalism by local evangelic trends, the process of globalization of religion, and finally, some stereotypes widespread in Brazil in relation to the local Jewish community.
KEY-WORDS: Judaism – Pentecostalism, Globalization, Philo-Semitism – Syncretism
À guisa de introdução
Diversos estudiosos definiram a religião brasileira como sincrética, difusa, híbrida e com um forte componente anti-institucional e antiautoritário (SANCHIS, p.. 1997; MOREIRA, A. & ZICMAn, R. 1994, BRANDÃO, 1994). Além do mais, as pesquisas são
* Antropóloga, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Judaicos e Árabes, (USP).
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reveladoras e demonstram que não existe o princípio de profanar uma religião se a ela se acrescentam (ou se com ela se misturam) símbolos e rituais de outras religiões. O que se observa são religiões criadas à imagem e semelhança do ator religioso, e não produtos de uma estrutura institucional externa, capaz de impor uma visão religiosa considerada a verdade absoluta.
Mas se a justaposição de traços de diversas matrizes religiosas como o cristianismo e as religiões afro-brasileiras tem sido aprofundada a partir de diversas disciplinas (sociologia, antropologia e estudos da religião), a incorporação de rituais, símbolos e costumes do judaísmo em igrejas de matriz cristã não têm sido alvo de pesquisas, embora seja um fenômeno que tenha crescido e se afiançado no Brasil na última década.
No que diz respeito às igrejas neopentecostais, é cada vez mais comum a apropriação de símbolos, rituais e trechos da liturgia judaica. Entre eles têm destaque a estrela de David (na bandeira do Estado de Israel ou simplesmente como um ornamento dentro das igrejas), a menorá (candelabro de sete braços), o shofar (chifre de carneiro cujo som tem lugar destacado nas comemorações do Ano Novo Judaico e no Dia da Expiação), o talit (acessório em forma de xale usado pelos judeus ortodoxos), réplicas da Arca da Aliança e passagens escritas em hebraico, tanto nos livros litúrgicos como nas paredes dos prédios dessas igrejas. Em algumas denominações evangélicas é comum que se celebre a Páscoa Judaica e a Festa dos Tabernáculos e a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) organizou em 2007 uma campanha nacional de venda de mezuzot (pequeno rolo de pergaminho, que contém trechos sagrados da Torá, protegido por uma caixinha e pregado nos umbrais das portas de lares e estabelecimentos judaicos). Finalmente, quase todas as igrejas evangélicas organizam viagens a Israel nas quais seus membros e simpatizantes visitam, além dos lugares santos cristãos, os lugares sagrados do judaísmo, como o Monte Sião e o Muro das Lamentações.
Paralelamente, apesar de serem menos multitudinárias que as igrejas neopentecostais, as igrejas messiânicas têm se multiplicado nos últimos anos, alcançando uma visibilidade cada vez maior. Sua arquitetura particular, a que se somam os nomes escritos em hebraico na entrada dos templos, como Beit Tsar Israel, Beit Tehsuvá, Ar Tzion e Am Israel, faz com que essas igrejas sejam facilmente confundidas com sinagogas, tanto por judeus como por não-judeus.
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O objetivo deste artigo é tentar esboçar algumas hipóteses sobre um fenômeno que, apesar de ter despertado a curiosidade de leigos e estudiosos, ainda não tem sido estudado: a incorporação de rituais e símbolos judaicos em certas igrejas brasileiras, principalmente naquelas denominadas sinagogas messiânicas e algumas vertentes do neopentecostalismo. O material empírico será a voz dos próprios atores religiosos obtida através da análise dos programas de TV e do material veiculado na internet pelas respectivas igrejas, e por uma observação participante não sistemática, produto da curiosidade da autora sobre este tópico. Duas dissertações de mestrado completam o material analisado1.
Neopentecostalismo no Brasil: alguns dados
Nas últimas duas décadas tem aumentado consideravelmente o número de evangélicos no Brasil2. O incremento das denominações evangélicas está concentrado principalmente nas igrejas neopentecostais de matriz brasileira, como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Renascer em Cristo.
Esse tipo peculiar de protestantismo foi definido por diversos autores como um protestantismo de saúde e prosperidade, que procura a bendição de Deus em termos materiais, a que se soma um componente messiânico primordial (PLATERO, 1999). O neopentecostalismo concentra seus esforços proselitistas entre a população de menor poder aquisitivo das grandes metrópoles, que o modelo político-social brasileiro degrada, segregando-a à periferia geográfica, social e espiritual (SOUZA, 2004; PEREIRA, 2010). Souza (2004) afirma que pentecostalismo desenvolveu uma grande política de apropriação espacial nas periferias e centros das grandes urbes brasileiras3.
A teologia e doutrina dessas igrejas são simples e seu sucesso provavelmente seja reflexo, entre outras causas, do uso e da manipulação de modelos exógenos para explicar
1 Cf. Travassos, 2009 e Barbosa da Silva 2010.
2 Assim, como movimento religioso, o neopentecostalismo alcançou o número significativo de 17,4 milhões de adeptos em todo o país registrado em 2000 pelo IBGE.
3 Pereira (2010, p. 6) acrescenta: “O que se constatou, segundo o Censo [2000], foi que houve um crescimento significativo das igrejas evangélicas e pentecostais durante a década de 90, principalmente nas regiões mais pobres e violentas da capital paulista e municípios vizinhos, o que contrapõe com o quadro de predominância de católicos no centro e bairros nobres da capital, onde os mesmos ainda representam em torno 71,92% a 82,43 % da população”.
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catástrofes e tragédias. Em outras palavras, os fiéis não são responsáveis nem culpados por nenhum mal, uma vez que a origem de todo mal provém do demônio, encarnado principalmente nas religiões afro-brasileiras, seus pais e mães de santo, pretos velhos, pombas giras, trabalhos e macumbas (PRANDI, 1996). Simultaneamente, embora a maioria dos membros das igrejas neopentecostais pertença às classes menos favorecidas do País, seus líderes nunca fizeram elogios à pobreza nem lhe atribuem um significado redentor.
Finalmente, é importante lembrar que no Brasil o neopentecostalismo é sucessor de outras vertentes protestantes: o protestantismo de imigração de inícios do século XIX, composto principalmente por igrejas luteranas; o protestantismo de missão, oriundo dos Estados Unidos e criador de uma vasta gama de denominações; e o pentecostalismo, representando em primeiro lugar pelas igrejas evangélicas Assembleia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil (DREHER, 2002).
De Roma a Jerusalém: os pilares da escatologia evangélica
Após esta brevíssima e condensada descrição do panorama evangélico na sociedade brasileira contemporânea, resta indagar as causas que levaram a símbolos judaicos terem sido incorporados por algumas dessas igrejas.
Entre as várias razões que explicariam a aproximação das denominações neopentecostais ao judaísmo podemos assinalar o “retorno” dos protestantes como um todo ao denominado Antigo Testamento, em marcada oposição às diretrizes da Igreja Católica Apostólica Romana. Dizendo de outro modo, a leitura de versículos da Bíblia hebraica levaria quase que naturalmente à incorporação de trechos da liturgia judaica nos cultos dessas igrejas, bem como à utilização dos símbolos judaicos mencionados anteriormente. Outro fator explicativo seria a austeridade que caracteriza as igrejas neopentecostais, que em seu anelo por diferenciar-se do catolicismo considerado idólatra, extirparam dos locais de culto as imagens de Cristo e da saga de Cristo em todas as suas manifestações. Isto último é de significativa importância, uma vez que a austeridade exigida dos templos neopentecostais coloca problemas para igrejas essencialmente proselitistas, ao mesmo tempo em que, de algum modo, contradiz a teologia da prosperidade pregoada por seus pastores e bispos. Em outras palavras: como assegurar a promessa de mobilidade social
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ascendente de templos pobremente decorados, quase ascéticos? Além do mais, como cativar as massas brasileiras com uma antiga tradição religiosa católica, cujas igrejas de estilo barroco constituem um referente importante para aqueles que escolheram como nova religião o neopentecostalismo?
A proscrição de imagens e símbolos católicos constitui um obstáculo tão importante como a problemática incorporação de símbolos de outras expressões da cultura religiosa e popular brasileira. Diante deste panorama, não surpreende que os líderes das denominações neopentecostais encontrem no judaísmo uma fonte de inspiração supostamente legítima para criar rituais e recriar símbolos que dificilmente possam ser rotulados como manifestações de idolatria.
Ainda assim, seria superficial aceitar estas hipotéticas respostas como explicação necessária e suficiente do lugar cada vez mais destacado do judaísmo nos templos neopentecostais. Por outro lado, é importante lembrar o crescimento e diversificação das igrejas messiânicas no País.
Arrisco-me, então, a propor uma explicação complementária que se relaciona diretamente com o fator milenarista inerente ao neopentecostalismo, cujas raízes se encontram no messianismo judaico. A escatologia cristã (profundamente influenciada pela escatologia judaica pós-exílio babilônico, por um lado, e por sua reformulação no século I da Era Comum, por outro) pode ser resumida da seguinte forma: Jesus, filho de José e filho de David, foi enviado por Deus para ser o messias dos judeus. Seu povo não acreditou nele, que posteriormente foi crucificado pelos romanos. Entretanto, Jesus voltará, a segunda vez dos céus, para julgar a humanidade e iniciar uma nova era (COHN, 1980).
Ao longo da história, diferentes representantes da Igreja Católica e do protestantismo em suas múltiplas versões tentaram definir como seria a volta de Jesus. Essas visões escatológicas divergentes influenciaram de modo considerável a relação dos cristãos com o os judeus, ora mais tolerantes, ora mais agressivas.
Extrapola os objetivos deste artigo enumerar as diferentes doutrinas escatológicas cristãs. O que considero importante assinalar são alguns pontos da doutrina conhecida como dispensacionalismo, que, em graus e modos diversos, tem influenciado a maioria das igrejas pentecostais e neopentecostais brasileiras. Formulado nos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XIX, o dispensacionalismo parte da premissa que, do mesmo
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modo que a primeira vinda de Jesus teve como objetivo salvar o povo judeu, sua volta terá a mesma função. Mais precisamente: na segunda vinda, Jesus se manifestará em Jerusalém e dessa cidade iniciará seu reinado messiânico. Em poucas palavras: o ponto de partida já não se encontra em Roma, mas tem retornado a Jerusalém (SCHALY, 1992).
O dispensacionalismo, cujo componente milenarista é primordial, baseia-se numa hermenêutica bíblica particular que divide o tempo em diferentes eras (ou dispensações) nas quais Deus se relaciona com os humanos através de alianças singulares, a exemplo da aliança feita com Abraão, com Moisés, com a Igreja e, por último, com o sionismo4. Esta visão se relaciona diretamente com o conceito de revelação progressiva. Por sua vez, os dispensacionalistas partem da premissa de que, embora a nação de Israel se diferencie da Igreja, esta distinção não é mutuamente exclusiva. Assim, Deus cumprirá as promessas feitas aos israelitas; entre elas, o restabelecimento do reinado davídico em Jerusalém, lugar do qual Cristo governará o mundo (SCHALY, 1992). À diferença do pregado pelas igreja católica, ortodoxa e anglicana, entre outras, os dispensacionalistas não acreditam numa cisão entre a nação de Israel e a igreja, isto é, o cristianismo: ambas constituem o povo de Deus e ambas serão salvas. Entretanto, um ponto deve ser lembrado: da mesma forma que o cristianismo de modo geral, os dispensacionalistas acreditam que no final dos tempos haverá um fluxo maciço de judeus ao cristianismo.
A partir do século XIX, diversos grupos fundamentalistas protestantes, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, adotaram o dispensacionalismo. A fundação do Estado de Israel em 1948 aumentou entre os dispensacionalistas a expectativa milenarista em relação à segunda e última vinda de Jesus que, como fora mencionado, governará o mundo de Jerusalém. A análise do discurso de pastores e bispos de diferentes denominações neopentecostais através da TV e de sites na internet e a conversa com pastores das igrejas Presbiteriana e Adventista do Sétimo Dia permitem esboçar a hipótese de que quase todas as igrejas neopentecostais, como parte das correntes do protestantismo histórico brasileiro, defendem a visão escatológica brevemente explicada, que apoia a existência de um Estado judeu nas Terras de Israel por acreditar que o mesmo tem papel
4 Existem diferentes esquemas de divisão entre os dispensacionalistas que vão de 3 a 7 grandes eras. Cf. Wikipédia “Dispensationalism” e Schaly 1992.
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central no plano Divino, constituindo um pré-requisito para a volta de Jesus e o início de seu reinado messiânico.
O cenário cristão brasileiro: uma guerra religiosa pela apropriação do judaísmo?
A importância dos símbolos e rituais judeus em diferentes denominações cristãs pode ser observada –além da sua presença nos templos em questão- pelo número de vozes que, a partir das próprias igrejas evangélicas, condenam o que consideram ser uma moda, uma apostasia e/ou uma interpretação errada da mensagem de Cristo. É esse o caminho que escolhi para ilustrar o fenômeno peculiar daquilo que, por não encontrar um termo mais apropriado, poder-se-ia denominar judeofilia.
Assim, por exemplo, o pastor Luiz César Nunes de Araújo, representante da Igreja Cristã Evangélica, fundada no final do século XIX por enviados canadenses ao Brasil e Diretor da Seteceb (Seminário Teológico Cristão Evangélico do Brasil), num texto amplamente difundido nos sites evangélicos brasileiros, intitulado “O perigo da judaização da Igreja: Igrejas evangélicas estão adotando costumes judaicos”, afirma:
Tem sido comum em nossos dias, algumas igrejas evangélicas adotarem práticas descritas no Antigo Testamento, comuns no judaísmo e não no cristianismo. É uma espécie de judaização da igreja. Pessoas não judias estão vivendo como se as fossem. Esta tendência iniciou-se no período da igreja primitiva quando alguns judeus convertidos orientavam que todos os demais, inclusive os gentios convertidos, observassem parte da legislação do judaísmo, a fim de se completar neles a obra da salvação. Os judeus convertidos tinham muita dificuldade em descansar na obra vicária de Jesus a sua salvação completa (IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA DE BRASÍLIA). 5
O mencionado pastor explica que o cristianismo se libertou finalmente de práticas judaizantes no ano 70 da Era Comum, com a destruição do Segundo Templo pelos romanos, e lembra que, no Concílio de Nicéia em 325, os pais da Igreja romperam definitivamente quaisquer vínculos com o judaísmo. No entanto, aflito pela situação
5 Cfr.
http://www.icebrasilia.org.br/estudos.php?co_estudo=64, site da ICE, Igreja Cristã Evangélica de Brasília, acessado em 3 de setembro de 2010.
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observada no Brasil atual, Nunes de Araújo repreende os evangélicos do País com as seguintes palavras:
Hoje, quase 20 séculos depois do Concílio de Jerusalém (At 15) parece que a igreja voltou a sofrer da “Heresia dos Judaizantes”. A diferença é que a pressão não é de fora para dentro, isto é, não vem dos judeus convertidos, mas é de dentro para fora. São líderes de igrejas evangélicas que estão resgatando práticas judaicas e implantando-as (IDEM) 6.
Em sites nos quais aparecem prédicas de pastores de diversas igrejas evangélicas e em inúmeros blogs da internet, é muito fácil encontrar com críticas ao processo de “judaização” observado nas religiões evangélicas do Brasil e as referências são recorrentes: a guarda do sábado como dia de descanso, a celebração da Páscoa judaica e da Festa dos Tabernáculos. Outro exemplo é ilustrativo do mesmo tópico: no site Sola Scriptura TT, autodefinido como: “defesa da Bíblia e fé fundamentalista”7, identificado com a corrente batista, encontra-se o seguinte depoimento:
Como se não bastassem as igrejas do sétimo dia perturbarem os cristãos com seu legalismo farisaico com respeito a lei e o sábado, agora vem um exercito de neopentecostais capitaneados por Valnice Milhomens8, que levianamente se intitula “Apostola”, introduzir praticas vetero-testamentária e tradições judaicas nas igrejas alegando ser revelação de Deus. Sob o slogan “Sair de Roma e voltar para Jerusalém”, estes modernos fariseus tem disseminado praticas tais como: tocar de costas para a congregação, por considerar os ministros de louvor como “levitas”; uso do Shofar, para liberar unção ou invocar Deus; observância de festas Judaicas.( Tabernaculos, Bar Mitzivah etc); uso do Kipá e Talit, que são as vestimentas que os judeus praticantes usam para ir a sinagoga; tirar os calçados ao entrar na igreja (alguns já chamam de tabernaculo ou sinagoga) por estar pisando em lugar santo9; uso excessivo de símbolos judaicos tais como, a bandeira de Israel, o Menorah ou a Estrela de Davi (CRENTES JUDAIZANTES)10.
De modo menos sensacionalista, outras vozes se deixam ouvir em relação ao mesmo tópico e fazem referência à Epístola aos Gálatas para contextualizar o que é
6 Cfr.
http://www.icebrasilia.org.br/estudos.php?co_estudo=64, site da ICE, Igreja Cristã Evangélica de Brasília, acessado em 3 de setembro de 2010.
7 Cfr. http://solascriptura-tt.org/index.htm
8 Valnice Milhomens é co-fundadora da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, criada em 1994 em São José dos Campos, estado de São Paulo.
9 -Curiosamente, tirar os sapatos para entrar em uma sinagoga não é uma prática judaica.
10 Cfr. http://solascriptura-tt.org/Seitas/CrentesJudaizantes-FBelvedere.htm
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chamado o processo de judaização existente nos primeiros anos do nascimento do cristianismo. A idéia principal é lembrar os cristãos que a salvação é Jesus Cristo e se chega a ela através da graça e não através das “obras da Lei”.
Os protestos e recriminações de diversos pastores pelo uso de símbolos e rituais judaicos nos cultos evangélicos brasileiros partem de diversos setores e revelam a magnitude do fenômeno11. Por último, em um site da internet dedicado à discussão de temas religiosos no contexto brasileiro, o Rabi12 Judah Ben Haim da Sinagoga Messiânica Sha`arei Tikvah de Ribeirão Preto proferiu as seguintes palavras:
Pastores da Universal também estão usando de forma indiscriminada o “talit” – o manto de orações judeu. Existem certas regras de quem pode e quando pode usar esse manto de orações. Elas são tradições valiosas para o povo judeu – que pagou muitas vezes com o seu sangue para defender essas tradições. Também o uso do “talit”, sem estar consagrado para isso e de forma inadequada – é uma ofensa contra o povo judeu, do qual o mesmo Jesus fazia parte.
Aqueles que ofendem ao Deus de Israel e ao Povo de Israel trazem sobre eles e os que os seguem o Castigo Divino, como está escrito na Torá!13
Sem espaço para dúvidas, o mais interessante em relação ao último depoimento é que quem o assina, o rabi Judah Ben Haim, termina seu “escrito” com uma saudação peculiar: “En Yeshua Chessed Ve´shalom (em hebraico: em Jesus, justiça e paz), Sinagoga Sha´arei Tikva, Rio Preto, São Paulo”.
Velhos sincretismos, novas hibridizações: algumas reflexões finais
Se a judaização das igrejas neopentecostais e a proliferação de igrejas messiânicas são fenômenos que preocupam algumas lideranças religiosas identificadas com diferentes vertentes do protestantismo brasileiro, curiosamente, os rabinos do País não se manifestaram sobre o assunto. Da comunidade judaica só se escutam expressões de surpresa diante do fenômeno e, em algumas oportunidades, alertas de algumas instituições, como a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), em relação ao proselitismo
11 - Qualquer observador do cenário religioso brasileiro pode encontrar facilmente o fenômeno da “judeofilia” das igrejas evangélicas do País. Entrar em seus templos, assistir a seus programas de TV, ler a vasta literatura e imprensa veiculadas pelas ditas igrejas e navegar na internet são suficientes para deparar-se com símbolos, imagens, rituais e costumes judaicos.
12 Acredito importante assinalar que na atualidade, os rabinos não são invocados ou não se autotitulam “rabis”, mas rabinos ou, no caso dos Grandes Rabinos conhecidos pela sua erudição, são chamados “Rebbe”.
13 Cfr.
http://www.shearyaakov.org/iurd_p0804.html
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dos judeus messiânicos entre membros da comunidade judaica, que não poucas vezes se mostram incapazes de perceber que se trata de grupos cristãos. Este dado é relevante já que da perspectiva da comunidade judaica oficial não existe um sentimento de ameaça de que as práticas mencionadas sejam o início de um caminho que no futuro leve a possíveis transgressões das fronteiras étnico-religiosas impostas pelo grupo. No que diz respeito aos messiânicos e a muitos dos brasileiros que invocam raízes marranas, duas forças opostas e simultâneas os aproximam e afastam da comunidade judaica: 1) o componente filojudeu, expresso na observância de boa parte dos rituais judaicos, a incorporação da simbologia judaica nos cultos e a adesão “incondicional” ao sionismo, e 2) o componente cristão, manifesto em igrejas que reconhecem o Novo Testamento e a figura de Jesus como o messias14.
Numa outra ordem, como fora mencionado, o público que lota as igrejas neopentecostais e as igrejas messiânicas em sua grande maioria pertence aos segmentos de baixa renda e está concentrado na periferia das grandes cidades brasileiras (SOUZA, 2004; PEREIRA, 2010). No imaginário destes indivíduos e de suas lideranças é fácil identificar alguns estereótipos sobre a comunidade judaica local, entre os quais se destaca a posição privilegiada de seus membros na hierarquia socioeconômica do País. Os judeus são vistos como uma minoria que “deu certo”, isto é, como um grupo que conseguiu inserir-se com sucesso na estrutura de classes e na distribuição de prestígio da sociedade maior. Este, provavelmente, seja outro componente que explicaria a judeofilia das igrejas neopentecostais e dos indivíduos que optam por pertencer às igrejas messiânicas, bem como aqueles que invocam raízes marranas15. O que ainda merece uma análise é a pentecostalização, se assim posso expressar-me, dos símbolos, rituais e liturgias judaicas incorporadas pelas igrejas mencionadas. Este fenômeno se observa na utilização da mezuzá e da menorá como amuletos e a interpretação e utilização de certos versículos bíblicos como mecanismos para atingir a prosperidade no campo econômico, a cura e outros.
Chegados a esse ponto, uma interrogação exige atenção: poder-se-ia definir os fenômenos descritos e brevemente analisados como uma nova expressão do sincretismo
14 Para uma análise da Igreja Messiânica no contexto argentino, la Iglesia Israelita del Nuevo Pacto: Bargman, 1994.
15 Nas pesquisas de Travassos (2009 ) e Barbosa da Silva Fontanezzi Leonel Ferreira (2010) constata-se que as igrejas messiânicas estão compostas por indivíduos com uma longa trajetória religiosa em diferentes vertentes do protestantismo, principalmente, em igrejas pentecostais e neopentecostais.
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religioso local? Caso a resposta seja positiva, quais seriam suas singularidades e quais as diferenças com os sincretismos religiosos estruturantes da sociedade e cultura brasileiras?
A primeira questão que considero importante salientar é que não existe contato entre evangélicos e judeus messiânicos com judeus e/ou instituições judaicas16. Este dado é de suma importância uma vez que os estudiosos do sincretismo brasileiro sempre tentaram compreender fenômenos resultantes do contato entre culturas. Tampouco se trata de duas matrizes religiosas diferentes, como no caso das religiões indígenas e as religiões afro-brasileiras por um lado, e o cristianismo por outro. Assim, não poderíamos utilizar o princípio da cisão de Bastide que, na sua análise do candomblé, em lugar de encontrar mistura, simbiose cultural e fusão de crenças, se deparou com analogias e correspondências, afirmando que o sistema de classificação africano não se confunde com o sistema de classificação católico, uma vez que a memória coletiva dos africanos seleciona algum elemento que lhe é externo, conservando, assim, a autonomia.
Desde a publicação dos trabalhos de Bastide na década de 1950 até os dias de hoje, muito se têm escrito sobre o sincretismo, mestiçagem, bricolagem ou ambigüidade de categorias que estruturam a sociedade e cultura brasileiras com o intuito de compreender a formação de identidade nacional, seja na dimensão da miscigenação racial, seja na dimensão das ideologias e das religiões.
Para os objetivos deste trabalho parece-me necessário destacar que as religiões afro-brasileiras e outras manifestações religiosas sincretizadas existentes no País não se mantiveram congeladas. Como exemplo deste fenômeno, Prandi (1997) observou que houve uma reafricanização de muitos terreiros a partir da década de 1960, ao mesmo tempo em que o candomblé deixou de ser uma religião eminentemente étnica para transformar-se em uma religião universal, independente das variáveis raça e classe social. Segundo o sociólogo, é em São Paulo onde se observa um processo intencional de des-sincretização manifesto, por exemplo, no afastamento do calendário litúrgico católico e eliminando práticas do catolicismo umbandizado. Por sua vez, em seu trabalho sobre a Igreja Universal do Reino de Deus, Birman (2001) explica que em matéria de símbolos e rituais, o novo é a característica principal da IURD e se expressa na utilização de quaisquer tipos de
16 No caso dos indivíduos que invocam raízes marranas, o contato com sinagogas é sempre resultado de sua iniciativa e geralmente essas pessoas não são recebidas de mãos abertas pelos rabinos ortodoxos.
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objetos como mediadores entre o profano e o sagrado, sempre que tenham sido consagrados pelos pastores. Os materiais que compõem a bricolagem da IURD mudam constantemente como mudam suas matrizes: católica, afro-brasileira, New Age e mundo profano17. Nessa linha, poderíamos interrogar-nos se a apropriação de símbolos e rituais judaicos pelas igrejas neopentecostais brasileiras não será esquecida ou abandonada no futuro e substituída por outra fonte.
Ainda assim, no processo de incorporação de símbolos e valores judaicos pelas igrejas evangélicas, o fenômeno que mais sobressai vis-à-vis o sincretismo entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras é o desinteresse de uma das partes implicadas, o judaísmo. Em outras palavras, apesar da existência, crescimento e diversificação do uso de símbolos e rituais judaicos nos cultos das igrejas mencionadas, eles não resultaram numa resposta por parte da comunidade judaica, nem na perda de membros para as igrejas evangélicas18.
Do ponto de vista histórico, o cristianismo nasceu como uma superação do judaísmo. Paulo foi assertivo ao afirmar que a Torá era uma revelação temporária, razão pela qual decretou que aqueles que seguissem o caminho da Lei judaica depois da chegada de Cristo deveriam ser tratados como traidores. Dessa perspectiva, a traição dos judeus, somada ao assassinato de Cristo, transformou-os nos agentes de Satã, colocando os pilares para um anti-judaísmo de cunho metafísico que se alastrou pela Idade Média, mostrando fases violentas, a exemplo das Cruzadas, da Inquisição e das conversões forçadas de judeus ao cristianismo. Entretanto, para o cristianismo sempre ficou o problema teológico da resistência dos judeus em aceitar a nova revelação; sendo eles o povo escolhido por Deus como depositários da primeira aliança, por que tanta teimosia em rejeitar Jesus como messias? De algum modo, a rejeição de Cristo como o “ungido” pelos judeus foi sempre uma ameaça para a Igreja Católica e posteriormente para o protestantismo, uma vez que a própria existência qua judeus deslegitimava a verdade do cristianismo (MACCOBY, 2006). A necessária ruptura entre as duas religiões foi obra de Paulo e adotada pelo cristianismo como um todo até o século XIX.
17 É curioso que, no texto no qual Patrícia Birman analisa em detalhe a “iconoclastia” dos rituais da IURD, não tenha sequer mencionado a presença de rituais e símbolos judaicos.
18 Ainda assim, faltam pesquisas sobre judeus que frequentam centros kardecistas e umbandistas, fenômeno numericamente pouco expressivo, mas do qual poderiam ser extraídas conclusões interessantes.
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Mas, se essa foi a doutrina cristã durante séculos, vimos que o dispensacionalismo fez uma nova interpretação, elaborando uma escatologia milenarista que desfez a ruptura criada pelo cristianismo ao salientar a existência de uma continuidade entre a Igreja e o judaísmo. Obviamente, é apoiando-se nos Evangelhos, mais precisamente, na origem judia de Jesus e no fato de a revelação ter sido dada ao povo de Israel (Mt. 5:17; Paulo Gal. 4:4 e Romanos 15:8) que os pastores das igrejas neopentecostais e das igrejas messiânicas baseiam sua visão escatológica.
Simultaneamente e como conclui Barbosa da Silva (2010) sobre a base de seu estudo numa igreja messiânica brasileira:
Solucionando de modo invertido o impasse encontrado por Paulo entre a mensagem universal da salvação e o caráter particularizante das práticas judaicas, o que se observa nesta sinagoga é uma saída alternativa e criativa em que o discurso particularizante é somado à prática que ganha dimensão universal através da extensão de seus significados a partir de Yeshua (SILVA, 2010, p. 90)19.
Considerando sucessivamente os elementos expostos, várias perguntas ainda precisam ser respondidas. A primeira e mais importante é a seguinte: por que, se as lideranças evangélicas brasileiras encontram no cristianismo primitivo a legitimação para incluir determinados elementos do repertório cultural judaico em suas igrejas, se fixam em símbolos judaicos tardios e, no caso da bandeira do Estado de Israel, em um símbolo secular, em lugar de usar expressões iconográficas dessa época que, é necessário mencionar, são vastas nas artes pictóricas e nos achados arqueológicos?
Outro tópico relevante diz respeito à naturalidade com a qual são incorporados alguns traços da religião judaica, que, até para os mais leigos em judaísmo, são uma clara manifestação deste.
Parte das respostas, parece-me, deve ser procurada no universo cultural brasileiro, caracterizado pela mistura, a ambigüidade, a miscigenação e a intermediação. Uma cultura (com suas respectivas expressões religiosas) que não abomina a mescla nem a ambigüidade, mas que as institucionalizou desde a configuração de uma cultura nacional (DAMATTA, 2000, p.14). Evidentemente, o mercado religioso brasileiro atual –ainda que
19 Do hebraico: Jesus.
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influenciado também por outros fatores- reflete a aceitação natural das realidades apontadas por DaMatta20.
Um segundo fator suscetível de explicar, ainda que parcialmente, o fenômeno em questão é o processo de globalização do religioso. Segundo Lehmann (2009, p. 13-14) 21 tanto o Islã, como o neopentecostalismo e o judaísmo ortodoxo “se destacam como os pilares da globalização religiosa porque desfazem fronteiras políticas, lingüísticas e geográficas, criando comunidades transnacionais”. A divulgação nos sites das igrejas neopentecostais brasileiras de material vindo principalmente dos Estados Unidos, da Colômbia e de outros países é uma clara manifestação do fenômeno da globalização do religioso. A partir de outra perspectiva, De la Torre Castellanos (2009, p.18) afirma que o processo de transnacionalização das religiões tem papel decisivo na refundação de “povos escolhidos” e/ou “terras prometidas”. O megaprojeto da IURD de construir o Terceiro Templo de Salomão em São Paulo com pedras trazidas de Jerusalém é um exemplo emblemático da bricolagem que caracteriza as igrejas neopentecostais, uma vez que a escatologia dispensacionalista da qual a IURD é fiel seguidora prevê a construção do Terceiro Templo em Jerusalém como um sinal da segunda vinda de Jesus. Mas curiosamente, a re-localização do templo não pareceria despertar questionamentos entre os seguidores da mencionada igreja.
Finalmente, poder-se-ia afirmar que a inclusão de símbolos e rituais judaicos nas igrejas neopentecostais, bem como a adesão ao dispensacionalismo não são escolhas inocentes, já que por detrás dessas ações se esconde a crença milenar cristã de que fora de Jesus não há salvação, e que em algum momento histórico próximo ao “final dos dias”, os judeus se converterão massivamente ao cristianismo.
20 DaMatta (2009, p. 14) enumera uma grande gama de situações, espaços e comidas tipicamente brasileiras que desafiam categorias claras e distintas. Assim: “Como ter horror ao intermediário e ao misturado, se pontos críticos da nossa sociabilidade são construídos por tipos liminares como o mulato, o cafuzo e o mameluco (no nosso sistema de classificação racial)..., o amante (no sistema amoroso).... a varanda, o quintal, a praça, o adro e a praia (no sistema espacial)...; a feijoada, a peixada e o cozido, comidas rigorosamente intermediárias (entre o sólido e o líquido) no sistema culinário.....”
21 O processo de globalização da religião têm sido estudado por diversos autores. Cfr. Pace, E. “Religião e Globalização” em ORO, A. P. & STEIL, C.A. 1997, ORTIZ, R. 2001, LEHMANN, 2009 e ORO, A. P., ALVES, D. MEIRELLES, M. e FRANCISCO DE BEM, D. 2009.
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Recebido em: 20/10/2010
Aprovado em: 22/05/2011